Era suposto, por esta altura, uma maior tranquilidade no campo democrata. Está escolhida a candidata a vice, a Convenção online está a decorrer, as sondagens dão vantagem a Biden (sendo que na FoxNews a diferença já só é de 7 pontos), e Trump mantém o seu melhor estilo errático. Era suposto, não era? Pois, mas não parece.
O discurso de Michelle Obama, no primeiro dia da Convenção, foi desesperado, excessivo, hiperbólico. Como se tivesse perdido a esperança em Biden. A intenção era outra, pela certa, mas foi demasiado. No dia 3 de Novembro não se decide sobre a vida ou morte dos EUA. Não sei se este apelo dramático funciona no eleitorado americano. Para a Europa sim, Michelle fez um discurso excecional, espetacular, emotivo, glorioso. Mas os europeus não votam.
A curiosidade desta entrada de Michelle, que vai ser acompanhada pelo ex-presidente Obama, também numa intervenção na Convenção – onde estão todas as sensibilidades do partido – é muito reveladora da posição do casal. Nunca foram apoiantes iniciais de Biden, tentaram perceber se alguém cativante e moderado aparecia, e no final tiveram de se contentar com o velhíssimo Joe. Que nunca causou a Obama a melhor das impressões enquanto seu vice-presidente. « Don’t underestimate Joe’s ability to f–k things up». Este comentário é atribuído a Obama, há muito pouco tempo, e foi revelado por fontes democratas. Nada que espante, por isso.
Agora, a 70 dias das eleições, começa a pressão para Biden apresentar o seu relatório médico, o que é muito vulgar antes das eleições. E este pedido, que todos querem, democratas e republicanos, tem tudo a ver com Kamala Harris, que «por defeito» pode ser Presidente dos EUA, ainda no primeiro mandato. E aí o eleitorado pode vacilar. Ficar inquieto. Pensar duas vezes.