Há, para mim, três argumentos muito fortes, para não se realizar a cerimónia solene do 25 de Abril na Assembleia da República (AR). Claro que vai acontecer, mas nada como explicar porque não deveria. Primeiro, não pode nem deve transformar-se numa birra, entre a esquerda e a direita, ou coisa parecida. Segundo, temos de comparar, à escala, com o que foi feito noutros mundos, para respeitar a pandemia, e também a solenidade. Terceiro, não sendo Portugal propriamente uma potência mundial, nuclear, decisiva, tem, apesar de tudo, de respeitar alguns protocolos de segurança.
Birra. O Presidente da AR, homem íntegro e notável, não pode usar argumentos extremados. Que não são extremistas. Isso é outra conversa. Ferro Rodrigues não nos pode encostar à parede: se isto não se fizer, as extremistas ganham. Como? Não percebemos. O 25 de Abril é uma data extraordinária para Portugal, como outras também são, e o que nos trouxe foi abertura, solidariedade, serenidade e tranquilidade. Na verdade, o 25 de Abril vê-se todos os dias: porque vivemos em democracia, com todas as liberdades e garantias. E a birra está num ponto indiscutível: se todos estamos confinados, e em estado de emergência, é um absurdo não argumentável dar pompa e circunstância, mesmo que reduzida, a um dia que todos sabemos que foi, e é crucial.
Solenidade. Este argumento serve para católicos, ou pouco, ou nada, ou de outras confissões. Que data mais solene para os cristãos do que a Páscoa? À dimensão, obviamente, incomparável ao 25 de Abril. E que fez o Papa, na Basílica de S. Pedro, com toda aquele peso e simbolismo? Celebrou a Missa sozinho. Sozinho mesmo (não contam para efeito os poucos assistentes). E em nome de todos os cristãos, católicos, romanos. Na verdade, nunca uma Missa Papal teve tanta solenidade, e foi tão comovente. Um arrepio. Reduzidos à nossa pequenez, na AR, e no dia 25, bastaria o discurso do Presidente da República. Sozinho. Porque nos representa a todos. Porque estamos em emergência. Porque tudo o resto é dispensável.
Segurança. Convenhamos que é um argumento real, e não minimizável, nesta pandemia. Que sentido é que faz estar presente, na mesma sala, durante um longo período de tempo, toda a nossa hierarquia política e institucional? O PR, o presidente da AR, o primeiro-ministro, outros membros do Governo, deputados, líderes políticos, altos magistrados, comandos militares, e da polícia. Todos juntinhos, e ao vivo, numa fase crítica de uma pandemia viral? Que inconsciência é esta? Claro, somos pequeninos, não contamos para nada, e por isso tanto faz. Mas será que não existe um protocolo de segurança para as altas figuras do Estado?
I rest my case!