1 António Sampaio da Nóvoa (ASN) é um possível ou mesmo provável candidato a Presidente da República desde 10 de Junho de 2012. Porque nesse dia o então reitor da Universidade Clássica de Lisboa fez, como presidente da Comissão Organizadora das cerimónias que o assinalam, um notável discurso sobre Portugal, o seu presente e o seu futuro. Mostrou ter uma visão do País, ideias e carisma. Falou antes de Cavaco Silva e o contraste foi imenso. Dir-se-ia ser ele, Nóvoa, o Presidente. Não o que tínhamos, o que gostaríamos de ter. Foi ele que abordou o essencial e falou de um projeto de País em que a dimensão justiça social, inseparável do desenvolvimento, a educação e a cultura são fatores-chave.
O posterior percurso cívico do académico com um currículo brilhante fez o resto. Por um lado, o seu prestígio e a sua capacidade, demonstrada na criação da Universidade de Lisboa, unificada, de que significativamente foi eleito “reitor honorário”. Por outro lado, e mais importante, a participação destacada em múltiplas e plurais iniciativas de cidadania (e, já reflexo disso, no próprio Congresso do PS), sobretudo de centro/esquerda-esquerda, com intervenções vigorosas e mobilizadoras, suscitando não só apoio como até entusiasmo, como aconteceu no recente Congresso promovido pela Associação 25 de Abril.
Assim, de possível ou provável candidato, ASN transformou-se num excelente potencial candidato a PR, com o apoio de cidadãos daqueles setores e, diz-se, em devido tempo, do PS. ?É a atual situação, tendo sido noticiado, sem o próprio desmentir ou confirmar, que apresentará a sua (pré)candidatura logo após o 25 de Abril próximo.
2 Qualquer candidato a PR tem à partida muitos opositores, em especial dentro do maior partido que o pode apoiar, se não for seu militante. Isso já está acontecer, como previsível, com ASN. Para lá da legitimidade dessas (o)posições, por vezes elas relevam de uma conceção, que tanto mal tem feito à democracia, de acordo com a qual os partidos têm, digamos, o “monopólio” da política e do poder – até nas únicas eleições em que nem podem sequer apresentar candidaturas! Ou podem revelar coisas piores, até de forma inusitada, como também está a acontecer. Adiante.
Creio que, sobretudo depois de Cavaco Silva, qualquer candidato presidencial que apareça como “emanação” de um partido, ou vinculado a ele, ou muito ligado à prática política dominante, será derrotado; e o mesmo se diga de quem esteja ligado, inclusive na sua atividade profissional, ao grande poder económico e/ou aos seus interesses.
3 Não estar em nenhuma destas situações constitui uma das vantagens de ASN. A pergunta que com pertinência se pode colocar é esta: mas deve ser PR quem não tem experiência política relevante, nem conhecimento, por dentro, da máquina do Estado e do funcionamento dos órgãos de soberania? Esta, sim, uma questão de fundo, que aqui não tenho espaço para aprofundar. Seja como for, não esquecendo as dificuldades, entendo que pode, desde que faça prova de qualidades e características que me parecem evidentes em Sampaio da Nóvoa.
Outra pergunta é: e não pode, quem pertence a um partido, nele exerceu mesmo o mais alto cargo, ser um candidato que apareça acima e/ou à margem desse partido? Pode, em casos raros. Como o de António Guterres, pelas razões que já aqui salientei (VISÃO, comentário de 15 de janeiro), Guterres que é mesmo, naquele espaço político, o nome mais consensual e mais seguramente vitorioso, em particular face à quase certa candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa.
4 Intitulei aquele comentário Guterres, o direito ao silêncio. Mantenho e reforço tudo o que ali escrevi: a ser candidato, tem muito tempo para o anunciar, e quanto mais tarde o fizer melhor. Sei que não o deseja ser, ao contrário de Marcelo, mas não sei que tenha recusado em absoluto essa possibilidade, se tal for indispensável para vencer o “candidato da direita”. Quanto à (pré)candidatura de Nóvoa, que precisa de ser conhecido, tem de arrancar já. O ideal, porém – mas difícil, com riscos e a exigir muita inteligência política… – é que fazendo tudo como se fosse não afastasse em absoluto a hipótese de não se formalizar como candidatura caso Guterres apresentasse a sua.