Dia 31.
Hoje, segunda feira depois de um fim de semana prolongado, mês inteirinho ou 31 dias completos de quarentena, impõe-se começar a pensar em recomeços. Amanhã arranca uma vida nova para os muitos milhares de famílias que vão ter os filhos a estudar em casa no último trimestre escolar do ano letivo (que a força esteja connosco!), inaugurando assim toda uma nova experiência de digitalização à força do ensino nacional. Sexta-feira termina a segunda renovação do Estado de Emergência, que será provavelmente reconduzido outra vez, e os portugueses começam cada vez mais a matutar numa dúvida existencial: e agora, quando é que isso acaba? E, mais complexo ainda, como recomeçamos?
A sensação que temos todos é a de um angustiante beco sem saída: se correr o bicho come, se ficar o bicho pega. Se regressarmos à vida dita normal, sem restrições de circulação nem medidas de isolamento social, a maldita curva da Covid-19 volta a escalar e lá se vai o aplanar da curva. Se nos mantivermos confinados, continuamos a segurar o problema de saúde pública e a salvar vidas – a carregar na mola para baixo, como lhe chamou o Presidente –, mas a esborrachar com isso a economia e as finanças do País. Que fazer?
Hoje, um conjunto de figuras públicas de vários quadrantes da sociedade veio pedir para se começar a pensar no day after. Descontando o facto de algumas destas 159 figuras que agora pedem uma estratégia de retoma terem sido as primeiras a exigir as medidas de contenção há um mês, estão cobertos de razão. É preciso começar desde já a pensar numa estratégia integrada para gradualmente recuperarmos a atividade económica, que deve contemplar medidas de contenção diferentes. Só assim se evita uma segunda vaga de infeções. Ninguém sabe quando é que o alívio deve acontecer – há quem arrisque que já em maio e outros apenas em junho, mas numa coisa todos concordam: o fim do confinamento terá de ser progressivo e gradual. Tal como hoje disse também o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Ghebreyesus, as restrições têm de ser levantadas “lentamente”, “não pode acontecer tudo de uma só vez”. O risco de soçobrar agora é elevado: sermos confrontados com o caos que se conseguiu evitar.
Uma coisa parece já dada como certa: as máscaras vão ser as nossas melhores amigas – obrigatórias para podermos circular em sítios públicos, provavelmente durante muitos meses. As lotações em espetáculos e eventos serão muito limitadas e as pessoas mais velhas e mais vulneráveis terão regras mais apertadas de isolamento do que as outras. É preciso percebermos todos que não há boas soluções, apenas as menos más. Tudo para ver se fintamos o bicho e não morremos da cura nem da doença.