A razão pela qual o Reino Unido não tem um dia para festejar a independência deve-se ao simples facto de nunca ter sido conquistado. Foi ameaçado, bombardeado, Churchill disse We shall never surrender, mas conquistado e dominado a ponto de perder a soberania, isso nunca aconteceu. Este exemplo é uma analogia, uma chamada de atenção para o facto de as mulheres precisarem, infelizmente, ainda e sempre, de celebrar ao Dia Internacional da Mulher que serve os mais variados propósitos por esse globo fora, com aproveitamento comercial e demagógico de multinacionais e regimes mais ou menos democráticos.
O mundo precisa de assinalar este dia porque as mulheres no mundo inteiro precisam de se fazer ouvir em defesa dos seus direitos. Não preciso de ir buscar estatísticas do INE que fundamentem a minha visão da realidade, todos sabemos que o mundo sempre foi um lugar perigoso para as mulheres, que tiveram de morrer para ganhar o direito ao voto, a andar de cara destapada, a construir uma carreira ou a tirar a carta de condução. Basta pensar que a excisão é uma prática em certas culturas e tribos, mas a castração não. Gostava de ter dado um exemplo mais suave, mas acho que este diz muito sobre a realidade atual.
As mulheres têm dois grandes inimigos: os homens que são machistas e as mulheres que são machistas.
Felizmente nem todos são, e se continuarmos a educar os nossos filhos para a equidade, serão cada vez menos. Vamos lá então definir o perfil do machista na versão nacional. O machista é um tipo que olha para as mulheres de uma forma redutora e instrumentalizada, servindo umas para isto e outras para aquilo. O machista é um tipo que pratica a virtude para o mundo e faz o que quer na vida privada. É um homem que não se incomoda em pôr os cornos à mulher desde que lhe dê uma vida boa, que se casou com uma boazinha para ter a certeza que ela não salta a cerca. O machista é o marido que, se for preciso, até vai às compras, até cozinha, até põe os pratos na máquina, até leva os miúdos à escola, porque quer ajudar. O machista é o tipo que cobiça a boazona que passa, lhe lança uns piropos pelo Messenger e é capaz de a tentar caçar durante semanas, mas que não sai de casa, a não ser que a mulher descubra as patifarias extra-conjugais e tenha a coragem de o pôr fora. O machista é o tipo que protege as filhas dos rapazes maus da escola enquanto troca whatsapps com a amante. É o presidente de uma grande empresa que cumpre a lei das quotas para ficar bem perante as funcionárias. O machista é um parvalhão e, como há sempre uma tonta para o aturar, é difícil que deixe de existir. E a mulher machista é aquela que tolera, perpetua e patrocina comportamentos machistas. A que mostra subserviência e esconde o desprezo mesmo que o sinta, a que diz à Ritinha para levantar a mesa e deixa o Pedrinho ir para o quarto jogar online. A mulher machista é a que inveja o sucesso das mulheres que o conquistaram e rói as unhas até ao cotovelo com todo e qualquer gesto de liberdade por parte de outras mulheres, porque não inveja apenas a liberdade alheia, mas o sentido de liberdade alheia. A mulher machista é aquela que faz tudo para agradar aos homens, mesmo que isso ponha em causa a sua opinião, a sua liberdade, a sua dignidade e até a sua integridade.
Mas esta crónica não é para deitar abaixo um certo tipo de mulheres e de homens, até porque há tantos que não são machistas e que fazem tudo pelas mulheres, sejam elas amigas, filhas, namoradas, esposas, mães, sogras ou enteadas, colegas de trabalho, tias e avós. Conheço muitos de muitas nacionalidades, incluindo a nossa. Esta crónica é para puxar as mulheres para cima. Para lhes lembrar que o caminho para o respeito e para a igualdade se constrói todos os dias e começa em casa, pela forma como educamos os nossos filhos e filhas, como tratamos os nossos irmãos e irmãs, sobrinhos e sobrinhas, muito mais com exemplos de comportamento do que com grandes conversas. Para repetir até à exaustão que, se já damos todos os dias o nosso melhor em casa, no trabalho, com a família e com os amigos, temos o direito ao respeito por parte de todos. No texto do vídeo que hoje lanço aqui e nas redes sociais, é disso que falo. Nós não queremos ser completas nem perfeitas, não queremos ser cobiçadas nem desfeitas, queremos um tratamento de igual para igual, mano a mano. Se querem saber o resto, é só clicar e partilhar.
Basta de esperarem que sejamos super-heroínas do lar e do trabalho, da cama, do ferro e do fogão. Só queremos ser mulheres e só queremos ser felizes. O mundo é de todos, homens e mulheres, façam o favor de contribuir para que seja um lugar melhor, em nome das nossas mães, irmãs e amigas, em nome de todas as mulheres vivas e mortas que, com a sua coragem e valentia, o conseguiram mudar.