O calcanhar de Madjer em Viena, o vólei de Zidane na final de Glasgow, o pontapé-de-bicicleta de Ronaldo frente à Juventus… o remate de primeira de Zaidu, no Estádio da Luz. Tudo golos que ficam para a História. Não sei se para a do futebol, mas pelo menos para a minha, onde constam também lances como “bola vem aos repelões, bate na anca de Marega e entra na baliza”. Os golos do nosso clube são como os desenhos dos nossos filhos: podem não ser muito bonitos, mas têm valor sentimental.
O futebol consagra muitas vezes heróis improváveis. Zaidu fez o golo que carimbou o título do FC Porto. Claro que o campeonato só foi possível porque muitos outros, antes dele, marcaram golos, alguns de belo efeito. Mas não deixa de ter graça que seja Zaidu a pôr a cereja no topo do bolo, fazendo lembrar um renomeado pasteleiro, Éder, que nos tirou a barriga de misérias no Euro 2016. Estes anti-heróis são magnânimos e, na hora da vitória, não nos esfregam na cara tudo o que dissemos sobre eles. Não guardam rancor, nós é que temos de guardar a viola no saco, e ir implicar com outro. Provavelmente com a vedeta inesperada da próxima época. Depois da Mão de Deus, o pé de Zaidu, sendo que o golo de Maradona foi ilegal (mas felizmente contou), e o de Zaidu foi legal, mas devia dar prisão, por burla, já que o atleta anda há pelo menos dois anos a fingir que não sabe jogar. O futebol tem esta magia, de permitir que brilhem à mesma altura, ainda que por instantes, grandes astros e minúsculas estrelas. Diria mesmo que Zaidu se qualifica como uma supernova: uma explosão poderosa e luminosa, porém transitória. Zaidu Sanusi nasceu na Nigéria e mudou-se para Portugal em 2016, tendo sido emprestado pelo Gil Vicente ao Mirandela. Nota-se desde logo que é um homem talhado para grandes feitos: alguém que consegue cumprir escrupulosamente o ramadão enquanto sente o doce aroma da alheira merece todo o meu respeito.