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Sempre gostei de automóveis, sempre, desde muito novo. Recordo-me de brincar com pequenos carros num enorme tapete de Arraiolos rectangular. Eu e o meu amigo Gil Trigo fazíamos campeonatos com pequenas réplicas do Lotus F-1 da Jonh Player Special. Vivia em Algés, sonhava ser amigo do Niki Lauda e do Ayrton Senna, sentir a adrenalina de mais uma largada para o Grande Prémio da Bélgica, em Spa Francorchamps.
No Natal pedia sempre pistas e garagens de carros como prenda. Imaginem, estava o meu o meu pai no Vietname a preparar mais uma reportagem de alto risco para o semanário “O Jornal”, e, eu, ingenuamente, do alto dos meus quatro ou cinco anos de idade, pedia-lhe sempre para ele não se esquecer de trazer carros, jipes, camiões, atrelados, qualquer coisa que tivesse quatro rodas.
Não existiam telemóveis, nem msn, nem mail, nem Net, apenas cabines telefónicas. Ele ligava-me do fim do mundo e eu perguntava-lhe primeiro quando é que ele voltava para casa e, logo a seguir, qual era o carro que tinha comprado.
O meu pai percorria as “free shops” dos aeroportos de todo o mundo na procura de potentes bólides. Um verdadeiro “manager”, como qualquer bom pai, sempre pronto a ajudar o filho a ganhar mais uma competitiva corrida no tapete de Arraiolos. Infelizmente, os Lotus, Ferrari e Porsche tinham bastantes acidentes. Estavam sempre a ir ao tapete! Na maioria das vezes acabavam a semana prontos para um bom salvado ou prontinhos para abate.
Ao contrário do que muitos dizem, tenho a prova de os carros de Leste não são tão maus como os pintam. Ainda hoje, tenho um velho camião de metal que o pai Cáceres trouxe de Moscovo, em 1980. Ali está ele, firme e hirto, apesar de alguma ferrugem e do Lourenço Cáceres Monteiro de quatro anos tentar fazer corridas com ele. Um clássico!
Quando fiz 18 anos consegui finalmente tirar a carta e comprei uma carrinha VW Brasília. Anos antes, aproveitando as ausências do meu pai, conduzia diversas vezes um “potente” Toyota Starlet 1.3 S de tracção traseira, um Alfa Romeo 33 TI ou um Land Cruiser. Aventuras incontáveis, sempre bem acompanhado por alguns corajosos e corajosas, prontos para uma noite de aventura ao volante com um condutor experiente…sem carta. O início era invariavelmente na adega do José Ricardo, no Campo Pequeno, depois, já com o motor no “red line”, acelerava rumo ao Jet Set, na Aldeia de Juzo (vejo agora sem qualquer juízo) ou em direcção ao Autódromo do Estoril, para mais uma noite de rock no 2001. Percorri a marginal de Cascais dezenas de vezes. Assisti a dezenas de acidentes. Vi gente morrer na estrada. Sobrevivi, fruto da sorte e do destino.
Sempre fui daqueles que gostava de pegar no carro e conduzir sozinho pela noite de Lisboa, sem horas, sem destino. Só parava quando o ponteiro da gasolina batia no fundo e a luz laranja avisava que estava na hora de parar na boxe. Actualmente, a realidade é bem diferente, tenho a possibilidade de conduzir os carros que sempre sonhei, mas…quando é que será que vou finalmente conseguir ter tempo para restaurar o meu carro preferido – um Citroën 2 CV.
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