Nunca fez tanto sentido falar-se sobre a importância de ter um fundo de emergência como agora. Perante a incerteza económica e financeira que paira no ar, devido às medidas tomadas para conter o coronavírus, ter uma rede de segurança financeira, ou um “pé de meia”, pode ser a diferença entre uma família entrar ou não em desequilíbrio financeiro.
Por isso, na prática, quando falamos de um fundo de emergência estamos a referir-nos a um montante que está reservado para as eventualidades como: problemas de saúde, situação de desemprego, corte de rendimentos. Pode ser vista como a quantia necessária para ajudá-lo a superar um período difícil ou não esperado como, por exemplo, aquele que estamos a atravessar.
Uma das dúvidas mais frequentes é sobre o seu montante ideal. As boas práticas da gestão de finanças pessoais recomendam que se tenha o valor equivalente, e suficiente, para cobrir entre seis meses a um ano das suas despesas mensais. Portanto, se tem 1.000 euros de despesas mensais, o fundo de emergência deve ter entre 6.000 e 12.000 euros. Para quem trabalha por conta própria, o ideal mesmo seria ter o equivalente aos 12 meses. E porquê? Porque assim tem asseguradas as suas despesas mesmo que não consiga trabalhar ou ter qualquer rendimento durante esse período. E se ajustar e fizer alguns cortes de despesas até pode durar mais tempo. Ou seja, se perante um imprevisto eu conseguir reduzir as minhas despesas mensais para 800 euros, os 12.000 euros já dariam para assegurar 15 meses.
Para quem não tem qualquer montante de parte, e antes de se desmotivar, o importante é traçar uma estratégia. Primeiro tem de descobrir o número exato a que corresponde ao seu custo de vida mensal.
Neste ponto, é importante fazer o seu planeamento financeiro, ou melhor, o seu orçamento, contabilizando todas as entradas e saídas de dinheiro. Assim, terá uma visão mais ampla e detalhada dos seus custos em todos os meses. Desta forma pode fazer uma média e iniciar os passos para a criação do fundo de emergência.
Claro que quanto maior o valor total, melhor será a sua preparação para uma eventualidade, ou seja, terá capacidade para os problemas financeiros maiores.
Quanto deve ter o fundo de emergência?
Sabendo qual a meta a atingir, deve começar a fazer poupanças para esse objetivo. Que podem ser poupanças mensais, ou pontuais. Mas que, em primeiro lugar, devem ser canalizadas para a constituição do fundo de emergência. Este ponto é muito importante. A constituição de um fundo de emergência é o primeiro patamar da poupança. Não adianta estar a querer investir para um objetivo daqui a 10 anos, e até pôr numa aplicação de longo prazo, e depois não ter liquidez para o dia a dia, ou seja, não ter capacidade para pagar as despesas do próximo mês.
Por isso, canalize todo o seu esforço de poupança para a o fundo de emergência. Estabeleça submetas. Ou seja, primeiro tente ter o equivalente a um mês. Depois estipule ter o equivalente a três meses e assim por diante.
Onde investir?
Depois de saber o valor correspondente ao seu custo de vida, qual a dimensão ideal do seu fundo de emergência, quanto vai poupar para atingir esse objetivo, uma das dúvidas que surge é onde aplicar esse dinheiro. E aqui o ponto mais importante é compreender as características. Nós queremos que o fundo de emergência tenha elevada liquidez, ou seja, que seja fácil termos acesso ao dinheiro e de forma rápida, tenha capital garantido e não esteja sujeito a oscilações, e que renda pelo menos o valor equivalente à inflação. Com estas premissas rapidamente percebemos que os produtos financeiros onde podemos aplicar estão reduzidos a muito poucos. E repito: o objetivo com o fundo de emergência não é a rentabilidade. É a segurança e liquidez de acesso ao dinheiro perante um cenário inesperado e urgente.
Os depósitos a prazo são habitualmente o produto preferido. Só que neste momento – perante o cenário de taxas de juro historicamente baixas – estão a dar praticamente 0%. A solução para um início pode ser aproveitar os depósitos promocionais.
Depois temos os certificados de Aforro. São instrumentos de dívida criados com o objetivo de captar a poupança das famílias. Ou seja, no fundo está a emprestar o dinheiro ao Estado. O risco aqui é de o país falir. O valor mínimo para investir são 100 euros e tem capital garantido. A taxa de juro bruta para novas subscrições e capitalizações de Certificados de Aforro, Série E (a única que está disponível para novas subscrições), em Março de 2020 foi fixada em 0,589%. Aqui o ponto é que deve ter atenção é que só pode movimentar o dinheiro ao final de 3 meses. Portanto, aqui a questão da liquidez está condicionada por 3 meses, mas ultrapassando esse período é um produto a considerar. É que pelo menos consegue atenuar o efeito da inflação.
De acordo com os dados disponíveis de Fevereiro, a inflação situava-se em 0,4%, enquanto que a taxa dos certificados de aforro nesse mês era de 0,608%. É certo que nos certificados de aforro também os juros têm vindo a descer, mas o foco aqui é não ter o dinheiro em risco e ter liquidez. Por exemplo, se eu tiver em ações posso até ter liquidez, mas estou sujeita às flutuações de mercado; se eu resolver aplicar tudo numa casa e depois quiser vender, ou seja, transformar rapidamente em dinheiro não consigo, não é um ativo com liquidez.
Se precisar de recorrer ao fundo de emergência, mesmo que ainda não tenha atingido o objetivo final, não faz mal. Afinal, é para isso que serve. Quando tiver oportunidade volta a canalizar poupança para aquele fundo. Volte a olhar para o seu mapa de fluxo de caixa, entradas e saídas de dinheiro e veja que mudanças poderá fazer para conseguir repor o seu fundo de emergência. Assim, garante que estará pronto para enfrentar os próximos imprevistos financeiros. Até porque como diz o ditado: Mais vale prevenir do que remediar.