O que comer para correr mais rápido, saltar mais alto e lançar mais longe? Esta é a pergunta que se repete há quase 3000 mil anos, pelo menos desde que no santuário de Olímpia, em honra de Zeus, se iniciaram os “Jogos Olímpicos” em 776 a.C.
Curiosamente, a primeira prova olímpica de que existe registo, precisamente em 776 antes de Cristo, foi uma corrida de velocidade com a distância da medida grega “estádio” (στάδιον), provavelmente com 180 a 190 metros, ganha por um padeiro chamado Coroebus da cidade vizinha de Eleia, povoação que ainda pode ser visitada atualmente. Ou seja, o primeiro campeão olímpico de todos os tempos, era um homem ligado à alimentação. Terá sido ele o primeiro a cortar a meta, percorrendo uma distância semelhante ao que se pensava ser o comprimento dos pés de Zeus.
Para os gregos e atletas das primeiras olimpíadas, a alimentação era, muito provavelmente, um misto de superstições e conhecimentos empíricos da altura, onde o queijo, a fruta e o vinho estavam presentes. Pouco se sabe daquela época e o que foi escrito é de data posterior, mas a dieta dos gregos, na época, tinha por base os vegetais com um papel de destaque para os figos.
Com o avanço dos conhecimentos da bioquímica, fisiologia do esforço e composição dos alimentos, o séc. XX vê aparecer as ciências da nutrição e já nada será o mesmo. Atualmente, dispomos de um conjunto de conhecimentos científicos de base, que permitem um aconselhamento alimentar a praticantes de exercício físico sem mitos e superstições. Contudo, a necessidade de superação física e mental associada à prática desportiva, leva ainda à procura de substâncias “milagrosas”, alimentares e não alimentares, e ao aparecimento diário de notícias e anúncios de ajudas ao desempenho que podem, em muitos casos, prejudicar seriamente a saúde. Para combater este problema, a Direção-Geral da Saúde lançou recentemente um documento sobre o assunto, disponível on-line em www.nutrimento.pt e que aqui se resume em parte:
1 – Através de uma alimentação variada e energeticamente adequada, é possível alcançar as necessidades em hidratos de carbono (3 a 12g/kg peso/dia), proteínas (1,2 a 2,5g/kg/dia), gordura (>20% do valor energético total) e micronutrientes para o treino e competição. Ou seja, com o recurso aos alimentos que a natureza nos oferece, é possível construir um plano alimentar para atingir e manter uma composição corporal (massa corporal, massa gorda e massa muscular) saudável e adequada para os diferentes tipos de atletas.
2 – De uma forma geral, as recomendações de ingestão proteica conseguem ser atingidas exclusivamente através da alimentação (as proteínas de qualidade estão presentes no leite e derivados, ovos, peixe…), ou seja, sem o uso de suplementos de proteína ou aminoácidos.
3 – Tendo em conta que os hidratos de carbono (presentes no pão, arroz, massa…) são um fator limitante para a maioria dos tipos de exercício, e que a sua disponibilidade para o músculo e sistema nervoso central poderão estar comprometidas por a utilização exceder as reservas existentes, é fundamental que as reservas de hidratos de carbono sejam eficazmente restabelecidas de dia para dia. Assim, o consumo regular deste tipo de alimentos deve estar presente na ementa diária dos praticantes de desporto…e não só.
4 – O estado de hidratação afeta profundamente o rendimento físico e mental sendo que tanto o excesso de água como a sua insuficiência podem comprometer o rendimento e representar um risco para a saúde. O consumo de água, antes, durante e após o exercício deve ser a norma.
A alimentação adequada e a prática regular de exercício físico são dois dos principais determinantes do estado de saúde dos portugueses e podem ter uma influência enorme na prevenção da doença, nomeadamente na obesidade, diabetes, na doença cardiovascular e oncológica.
Quem pratica exercício físico, de forma ligeira a moderada ao longo da semana, com o objetivo de ter mais saúde e qualidade de vida pode, através de uma alimentação equilibrada e sem grandes modificações, atingir todas as necessidades nutricionais. Contudo, quando o nível de exigência aumenta ou quando a competição aparece, é fundamental o apoio de um profissional de saúde com conhecimentos na área. Quem investe no melhor equipamento, quem planeia o treino de forma organizada e meticulosa também deve “investir” no planeamento alimentar, decisivo para o desempenho e para a proteção da saúde.
Bom treino, com saúde e prazer!