Já todos temos ouvido histórias de fumadores que, na tentativa de deixar de fumar, afirmam que ir fumando progressivamente cada vez menos é mais fácil e eficaz para pararem, do que uma cessação súbita.
Outros dizem exactamente o contrário…
A maioria das Normas de Orientação Clínica recomenda que a cessão tabágica se faça abruptamente (o método da determinação do dia e hora em que se decide parar completamente), acompanhada por métodos de suporte (psicológico, medicamentos, etc.) ou não. Mas, na prática, as pessoas preferem na maior parte dos casos ir diminuindo o consumo tabágico progressivamente, com receio de sintomas mais marcados de abstinência.
Um ensaio clínico recentemente publicado na conceituada revista americana Annals of Internal Medicine (doi:10.7326/M14-2805) veio esclarecer o assunto.
Um conjunto de investigadores ingleses dividiu aleatoriamente um grupo de 697 fumadores (metade mulheres) e pediu a uns – o grupo gradual – para irem fumando cada vez menos até pararem (no final de um período de 15 dias) e a outro – o grupo abrupto – para deixarem de fumar completamente num dia previamente determinado. Em ambos os grupos os pacientes utilizaram antes e depois os adesivos de nicotina, assim como aconselhamento psicológico por enfermeiros, num sistema de cessação tabágica formal.
Os resultados demonstram que, ao fim de 6 meses, 15,5% dos fumadores no grupo gradual mantinham-se sem fumar, comparado com 22,2% do grupo abrupto. Estes resultados parecem recomendar que os fumadores que queiram deixar o vício devê-lo-ão fazer sob supervisão clínica e de maneira abrupta, caso queiram ter alguma possibilidade de sucesso.
Há ainda que notar que deixar de fumar é muito difícil: afinal, apenas 1 em cada 5 fumadores se mantinham sem fumar ao final de seis meses, apesar do tratamento sofisticado e complexo a que foram sujeitos. Talvez seja de duvidar da veracidade dos anúncios que por vezes ouvimos e vemos que prometem sucesso imediato e permanente na cessação tabágica…