Caro Leonard Cohen,
Se soubesses como as pessoas ainda reagem à tua música – como se tivessem acabado de assistir ao filho delas a nascer – não nos tinhas deixado. Mas o que fizeste por cá não tem hipótese de morrer. Porque te ultrapassaste. Te transcendeste. Foste mais do que aquilo que esperavas. E sabias sê-lo. Não tiveste medo do trabalho que o dom traz, nem do prazer que o suporta. Agradeceste, vivendo. Agradeceste, fazendo. Partilhaste connosco o que de bom acordava contigo. E quando não acordavas virado para o bem, para o dom, para dar, voltavas logo para a cama, dizias.
Não deves ter dormido muito. Em nós também não dormirás. Estarás presente nos nossos pequeno-almoços amorosos, nos nossos jantares, nos nossos concertos, na nossa pequena história individual, que tem minutos felizes quando finalmente escuta a tua voz, poeta.
Tu disseste, aleluia. Eu também o digo. Vai. Descansa. Bem mereces. Por aqui cantaremos. Cantaremos. Cantaremos. Cantaremos. Cantaremos.