Agora que a pandemia parece, finalmente, ter saído do topo da agenda dos principais players de retalho, é tempo de as “velhas” prioridades voltarem a constar no mapa. A sustentabilidade é uma das mais urgentes, especialmente no que diz respeito à descarbonização!
Como todos sabemos, o imobiliário é um dos principais contribuidores para estas emissões a nível global (cerca de 40% das emissões de carbono são geradas no ambiente edificado), mas também é verdade que este é já um tema incontornável nas agendas das empresas, investidores, proprietários e consumidores de imobiliário. De facto, em todos os seus segmentos, há a pressão para reduzir emissões de carbono, e o retalho não é exceção, pelo contrário.
Não obstante todos os progressos já alcançados, há ainda um longo caminho a percorrer, com as estimativas a indicar a necessidade de reduzir em 95% as emissões de carbono nos ativos de retalho face aos níveis atuais. É assim um dos setores imobiliários onde se abrem maiores riscos, mas também maiores oportunidades.
De facto, o caminho para alcançar a Neutralidade Carbónica neste tipo de ativos é bastante mais longo do que o de outras classes de ativos imobiliários. Trata-se, efetivamente, de um dos segmentos mais desafiados no âmbito das políticas de ESG (responsabilidade corporativa social e ambiental), devido à natureza dos seus ocupantes, incluindo as suas cadeias de abastecimento; devido ao desenvolvimento substancial dos projetos de retalho em áreas urbanas densificadas; devido ao papel do consumidor na sua relação com o retalho e à sua crescente procura por produtos sustentáveis. Para mais, este é um tipo de imóvel em que a relação do desempenho do ativo com a intensidade da sua atividade é bastante elevada.
As políticas de ESG podem ser incorporadas num projeto de retalho, quer em termos da infraestrutura/edificação em si, quer na sua operação, sendo crucial saber como implementar essas mudanças para que sejam financeiramente viáveis e para que acrescentem valor. Algumas formas de integrar a sustentabilidade com impacto no valor do ativo e no ambiente a médio prazo (se não já no curto prazo) podem passar pela aposta na certificação “verde” dos edifícios, por incorporar a economia circular nos ativos operacionais, por incluir cláusulas “verdes” nos contratos de arrendamento, por instalar estações de carregamento de veículos elétricos e painéis solares, por incentivar a partilha de conhecimento com os clientes, por criar um tenant mix de retalhistas também focados em ESG, entre outros. Todas estas ações terão, com certeza, impacto a dois níveis: 1) no valor destes ativos, quer pela via da valorização do capital (yield), quer pela via da operação (rendas e custos não recuperáveis); 2) no aumento da implementação de políticas de ESG neste tipo de ativos e que deverão ser pioneiros relativamente a outras classes de ativos menos pesadas em termos ambientais.
É por isso crucial agir rapidamente sob pena de, no futuro, o valor do imobiliário de retalho “não verde” começar a ser penalizado, quer por investidores, quer por ocupantes, razão pela qual todos os stakeholders estão claramente motivados e veem as vantagens futuras de agir e investir em melhorias já hoje. E isto não pode acontecer sem considerar o comércio online e o seu papel no aumento do consumo de carbono. A crescente popularidade das vendas online é uma área a rever quando se trata de reduzir a pegada de carbono de muitos retalhistas.
Com o retalho tipicamente instalado no coração das áreas urbanas densificadas e fortemente intrincado na vida quotidiana da maioria das pessoas, os proprietários e ocupantes deste tipo de ativos terão um contributo essencial para melhorar a experiência de todos num mundo descarbonizado.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.