Sim, a pandemia trouxe uma nova vida aos bairros residenciais e na verdade toda a vivência dos espaços públicos mudou muito. Trouxe-nos mais consciência de que o espaço urbano também é para ser vivido em permanência, e não apenas em passagem acelerada a caminho do trabalho ou escola.
Quantos de nós não descobrimos, agora sim, os bairros onde vivemos, as pequenas lojas que antes não frequentávamos, os bancos de jardim que passaram a ser um ponto de estudo ou trabalho, e os relvados dos parques para piqueniques ou jogos com as crianças?
Nunca antes vimos tantas pessoas a praticar exercício ao ar livre, como desde a fase do confinamento. Esta mudança de paradigma na forma como vivemos o espaço exterior obrigou, e bem, às autarquias a adaptar os espaços urbanos públicos, dotando-os de melhores equipamentos e criando condições para os pequenos negócios de bairro sobreviverem, como foi o caso da autorização de esplanadas na restauração, que dinamizou a utilização dos cafés e restaurantes de bairro e alterou os hábitos dos residentes em cada zona da cidade. Agora depende da agilidade de cada autarquia a capacitação e adaptação destes espaços à nova realidade.
Existe, contudo, uma questão de fundo, de melhorias indispensáveis aos espaços públicos, que com os anos acabaram por ser esquecidas em zonas residenciais que durante muito tempo foram utilizadas como “dormitórios” das grandes cidades, zonas de habitação satélite na periferia dos centros urbanos, que não têm infraestruturas urbanas públicas criadas para que as pessoas possam viver os seus bairros residenciais. Agora sente-se bem a diferença nos locais onde houve esse cuidado continuado de melhorias no espaço público.
A pandemia trouxe também o teletrabalho em muitas empresas o que influenciou também a forma como vivemos as nossas casas e os nossos bairros, uma vez que passámos a trabalhar onde vivemos. Mais do que nunca, sentimos necessidade de usufruir das zonas próximas de casa, os nossos bairros, como rede de apoio ao nosso dia-a-dia de trabalho, e que dinamiza a utilização dos serviços de bairro.