A imprensa económica tem sido assolada por notícias relacionadas com pesadas multas aplicadas a bancos e outras instituições financeiras, a maioria delas por má conduta.
Até Maio de 2015, uma série de reguladores europeus e dos Estados Unidos levaram um conjunto de bancos globais a concordar em pagar mais de 9 mil milhões de dólares em multas, por manipulação da Libor. Na sequência do escândalo, mais de uma centena de traders foram despedidos ou suspensos, vinte e um foram acusados formalmente e vários dirigentes de topo, incluindo dois CEOs de grandes bancos, foram forçados a pedir a demissão.[1]
Já durante o corrente mês de Agosto, um dos traders implicados no caso foi condenado a 14 anos de prisão, por manipulação da Libor. O juíz que aplicou a sentença referiu que “o que este caso mostra é a ausência daquela integridade que costumava caracterizar a banca”. [2]
Ainda em Maio deste ano, cinco grandes bancos globais concordaram em pagar mais de 5 mil milhões de dólares por manipulação dos mercados cambiais.
Num artigo intitulado “Regulation alone will not restore faith in markets – Bankers need to show they know right from wrong“, o Financial Times escrevia que “novas leis, contudo, são apenas parte da solução. A indústria precisa de elevar visivelmente os seus padrões éticos. … os gestores deviam saber o que constitui um comportamento adequado e aplicá-lo sem precisarem de um aguilhão externo. Uma indústria saudável expulsa as suas maçãs podres. Para recuperar a confiança, a banca deve mostrar que consegue fazer o mesmo”. [3]
Tudo isto vem a propósito de um tema que tem sido recorrente ao longo dos últimos anos de escândalos e casos que têm assolado o sistema financeiro, quer em Portugal quer no resto do mundo. Parece haver um pensamento unânime no sentido de legislar e regulamentar cada vez mais com o objectivo de evitar estes casos.
Basta olhar para a legislação que tem sido publicada, entre nós e no estrangeiro, para concluirmos que, de cada vez que alguém infringe as normas, as entidades sérias e honestas são novamente infernizadas com mais leis, mais regulamentos e mais obrigações de produzir toneladas de informação a processar por mais colaboradores que os reguladores terão que recrutar, tudo obviamente pago pelos consumidores ou pelos contribuintes.
As empresas, em especial as do sector financeiro, e os seus responsáveis só poderão evitar este avolumar do peso das leis se voltarmos a ter uma cultura empresarial que privilegie os interesses do cliente acima de tudo o resto, lucros incluídos. E digo voltarmos a ter, porque os acontecimentos dos últimos anos têm demonstrado à saciedade um total afastamento dos padrões éticos exigíveis às empresas do sector financeiro e a quem nelas trabalha. A ilustrar esta triste constatação é o resultado de um inquérito de opinião conduzido recentemente pela Economist Intelligence Unit, em que 53% dos responsáveis de serviços financeiros entrevistados disseram que a progressão na carreira seria difícil sem uma abordagem “flexível” aos padrões éticos. 71% dos banqueiros de investimento entrevistados disseram o mesmo.
Cabe a todos e a cada um de nós contribuir no dia a dia para mudar a situação a que chegámos.
Notas:
[1] In http://www.cfr.org/united-kingdom/understanding-libor-scandal/p28729
[2] In http://www.ft.com/intl/cms/s/0/60a5de6e-322a-11e5-8873-775ba7c2ea3d.html#axzz3izHV1crA
[3] In http://www.ft.com/intl/cms/s/0/8a41dd82-0399-11e5-a70f-00144feabdc0.html#axzz3izHV1crA