Ben Gonthier chegou a Lisboa há 11 anos enquanto jovem arquiteto. Travou conhecimento com vários artistas e decidiu que, antes de montar os equipamentos no seu atelier, gostaria que estes beneficiassem do espaço.
O atelier nunca chegou a acontecer. De projeto em projeto, o local foi-se transformando num espaço de programação de exposições, evoluindo progressivamente para uma verdadeira galeria de arte, a Foco, atualmente num espaço de 300 m2, na Rua Antero de Quental.
A 20 de março deste ano levou, até Paris, os 13 artistas que representa, em Lisboa, a fim de mostrar o seu trabalho na exposição Lisboa Não Sejas Francesa, mostra mostra que quer promover o diálogo intercultural entre as duas cidades e que se encontra patente, até 17 de maio, na L’Atlas Galerie des Mondes.
“A exposição não é apenas um convite para descobrir obras, mas uma exploração dos laços profundos entre a arte contemporânea portuguesa e as realidades culturais e sociais que moldam estes artistas”
ben gonthier – fundador galeria foco
Representar artistas portugueses foi um objetivo desde o início da galeria?
A nacionalidade nunca foi um critério para a galeria. O meu objetivo foi sempre colaborar com artistas cujo trabalho ressoasse com a linha artística do projeto, independentemente da sua origem. Claro, estando a galeria instalada em Portugal, a maioria dos artistas com os quais trabalhamos são portugueses. Há também alguns artistas franceses (que residem em Lisboa), o que aconteceu naturalmente por afinidade e pela facilidade de comunicação ligada à minha origem. No entanto, procuro manter um equilíbrio e não representar demasiados artistas franceses, para evitar qualquer perceção errada que possa levar a crer que me limito a uma única comunidade ou que não procuro integrar-me plenamente no contexto artístico local.
Como surgiu a ideia de levar os artistas da Foco para a L’Atlas?
Há já vários anos que desejava dar visibilidade à criação contemporânea portuguesa de Lisboa através dos artistas da galeria. Foi durante a ARCOmadrid que os diretores do projeto L’Atlas me fizeram a proposta. Aceitei de imediato, porque, na minha opinião, representa uma oportunidade ideal para a galeria estabelecer-se na cena cultural parisiense.
O que significa apresentar na própria cidade os artistas que se representa na cidade de adoção?
Apesar de já terem passado 11 anos e de ter a intenção de ficar em Lisboa, Paris fará sempre parte de mim. Poder reunir essas duas partes da minha vida num momento tão especial foi algo muito importante e profundamente significativo. Acredito também que o público francês tem muito a ganhar em descobrir esta exposição que, à sua maneira, reflete uma visão de Lisboa.
O que é que gostavas que o público francês retirasse desta exposição?
Que sentisse a essência de Lisboa e de Portugal, mas também a energia criativa que emana dos artistas que represento. Não é apenas um convite para descobrir obras, mas uma exploração dos laços profundos entre a arte contemporânea portuguesa e as realidades culturais e sociais que moldam estes artistas. Gostava que a exposição suscitasse uma reflexão sobre as diferentes facetas de Lisboa e de Portugal, mas também sobre a forma como estes artistas se inspiram no seu ambiente para questionar e reinventar a sua própria realidade.
Qual a importância de iniciativas como esta?
São essenciais, pois oferecem a oportunidade de apresentar o trabalho de vários artistas num contexto distinto do das feiras, criando uma experiência mais aprofundada. Estes projetos geram um espaço propício à reflexão sobre a arte em toda a sua diversidade, permitindo uma abordagem menos mercantil das obras. Mas também permitem alargar a perspetiva sobre a cena artística portuguesa, inserindo-a num diálogo enriquecedor com outras culturas. Este tipo de exposição promove os intercâmbios entre artistas e públicos, facilitando uma melhor compreensão das práticas contemporâneas, ao mesmo tempo que reforça a visibilidade dos artistas portugueses a nível internacional. É uma forma de participar ativamente na evolução da cena artística global, valorizando as vozes e as realidades de países como Portugal.