O livro incluía uma ilustração em que se via o gato nas várias fases da sua queda, até aterrar de quatro patas no chão. Gerou-se rapidamente um alarido nas redes sociais, com os arautos da defesa dos animais a entrarem em estado de choque, e a editora a formalizar um pedido de desculpas. Se o gato da Dona Chica não morreu, este menos ainda, um salto alto faz parte do seu dia-a-dia.
Tal não quer dizer que a formulação do problema não seja desapropriada. Cinco metros é um abuso da elasticidade do gato e de todas as pessoas com o mínimo de bom senso e resquícios de uma época em que os animais não tinham direitos.
Mais injusto se torna tudo isto, do ponto de vista do gato, quando coincide com a chegada a Portugal da Dog TV. Trata-se de um canal exclusivamente dedicado a cães. Explique-se: não é feito a pensar nas pessoas que gostam de cães, mas sim dos cães que gostam de ver televisão. Não vale de nada replicar o slogan da loja de conveniência: “Se o seu gato gostar de comida para cão, também temos”, porque há diferenças essenciais entre o que um cão e um gato gostam de ver na televisão. Isto apesar de, aparentemente, os gatos serem animais do sofá.
Bem se sabe que os cães têm desenvolvido o olfato (para a TV é indiferente) e a audição, enquanto os gatos têm a visão tão desenvolvida que não reconhecem o movimento em 24 frames por segundo.
A Dog TV tem todo um aparato científico à sua volta. É estudada a nível de imagem e som, passando por exemplo pela tonalidade. Tudo para agradar a cães. Por exemplo, ficou demonstrado nos seus estudos que, regra geral, os cães preferem música clássica e não gramam Natalia Imbruglia. Valham-nos os cães.
A principal função da Dog TV, à parte de possíveis benefícios terapêuticos, é a de pet-sitter. Faz companhia aos bichos quando os donos não estão em casa. Por isso, à partida, não haverá qualquer disputa canina pelo telecomando. Resta saber como vão contabilizar as audiências. Os cães contam como espectadores? Mesmo se o canal preferido for a Sport TV?