São o Quarteto de Cordas de Matosinhos, criado em 2007 por quatro jovens músicos premiados (os violinistas Vítor Vieira e Juan Maggiorani, o violetista Jorge Alves e o violoncelista Marco Pereira), em concurso público organizado pela Câmara Municipal. A excelência do seu trabalho tem sido reconhecida pela crítica e pelos muitos convites para atuar em Portugal e fora de portas.
O corolário é a digressão europeia do programa Rising Stars, realizado pela European Concert Hall Organization e destinado a talentos emergentes, que decorre até 28 de junho e passa, por estes dias, pelo Grande Auditório Gulbenkian (15 de Maio, 21 e 30) e pela Sala 2 da Casa da Música (dia 17, 18h).
Duas semanas após a consagração com a Medalha de Mérito Dourada da Câmara de Matosinhos e à espera da saída, muito em breve, do terceiro CD, o primeiro violino Vítor Vieira fala sobre os objetivos deste grupo em contracorrente com o estado do país.
JL – Que impacto na vossa carreira está a ter a participação no programa Rising Stars?
É uma experiência muito importante para nós. Não é normal para quem está no panorama musical português poder dar concertos em salas tão importantes como o Concertgebow de Amesterdão e o Musikverein de Viena, entre outras. É bom conhecer este tipo de salas, ter tido uma óptima receção por parte do público, o que nos dá confiança na qualidade do nosso trabalho, ter tido críticas em revistas prestigiadas, como a “The Strad”.
Estamos numa fase de consolidação do grupo, temos estabilidade e solidez para fazer uma carreira longa. Mas trabalhámos muito para isso, com os estudos especializados que realizámos mesmo antes de termos constituído o Quarteto (por exemplo, com Rainer Schmidt, do Quarteto Hagen), pelo que isto é uma consequência natural.
A escolha de obras de Vianna da Motta e de Vasco Mendonça para os programas da digressão europeia é representativa do vosso objetivo de divulgação do património nacional? Sim, claro. Temos duas peças portuguesas nos programas: “Cenas nas Montanhas”, de Vianna da Motta, e a obra contemporânea “Caged Symphonies”, de Vasco Mendonça, que foi escrita para nós e estreada por nós. Em todos os concertos da digressão temos conseguido apresentar pelo menos uma delas.
Todas as salas foram recetivas em relação a estas obras e muitas delas mostraram interesse em conhecer música portuguesa, que é pouco tocada. Duas dessas salas, em Hamburgo e Colónia, até programaram as duas peças.Têm pugnado sempre por apresentar repertório nacional…
Sim, fizemos sempre questão de afirmar a nossa identidade como um grupo português.
Através da Câmara de Matosinhos foi possível fazer bastantes encomendas a compositores e já estreámos 15 peças. Temos tocado outras obras de compositores portugueses vivos e também repertório mais antigo, infelizmente escasso, mas de qualidade que merece que seja muito mais apresentado.
Os programas dos vossos CD refletem os vossos objetivos gerais?
Sim, por um lado o repertório português, tanto o antigo como o novo; por outro, o grande repertório para quarteto de cordas, que é imenso, e do qual fizemos em Matosinhos as integrais de Mozart e Mendelssohn e estamos a apresentar as de Haydn, Beethoven, Chostakovitch. Essas duas opções estão muito patentes nos CD.
O primeiro foi constituído por peças encomendadas por nós a três compositores (Eduardo Patriarca, Telmo Marques e Paulo Ferreira Lopes) e baseadas em temas populares portugueses. O segundo CD é monográfico de Miguel Azguime. O terceiro, prestes a sair, inclui peças com as quais nos identificamos mais e que são muito bem recebidas quando as tocamos: o Quarteto op. 13 de Mendelssohn e o Quarteto nº 8 de Chostakovich, e também a “Contrafacção Folclórica”, de Telmo Marques.
A vossa experiência diz-vos que existe em Portugal interesse pela música de câmara? Esperamos que sim e que ajudemos a abrir espaço para que apareçam mais grupos e toda uma geração mais jovem apostada neste tipo de trabalho. Embora o público não seja tão alargado como o dos concertos sinfónicos, há um trabalho que está a ser feito para formar públicos.
Quais os vossos projetos futuros?
Queremos gravar mais CD e deixar um registo do trabalho que temos feito com as encomendas. Gostaríamos de deixar, a longo prazo, uma marca no repertório português para quarteto de cordas. Queremos continuar a apresentar o grande repertório e concluir as integrais em curso, e também a dar o máximo de concertos possível, tanto em Portugal como nalgumas destas grandes salas europeias por onde temos passado.