Em terra de fadistas, o talento para o ballet clássico é raro. Mas há grandes exceções. É o caso de Miguel Duarte, 16 anos, aluno da Escola de Dança do Conservatório Nacional (EDCN), que tem sido selecionado e ganho prémios em alguns dos mais prestigiados concursos a nível mundial. É o caso do Ekaterina Maximova Ballet Competition Arabesque, em Perm, na Rússia, em que ultrapassou todas as eliminatórias até chegar à final. Era o único português em concurso. Do Conservatório de Lisboa viajaram outros dois alunos japoneses (a boa fama da EDCN faz com que alguns alunos estrangeiros o frequentem) e foi o único europeu (sem contar com os russos) a chegar à terceira eliminatória, ganhando mesmo o Yukari Saito e Nikolay Fyodorov para “o bailarino mais talentoso entre os concorrentes mais jovens”, uma espécie de prémio revelação. Foi a sua mais importante distinção, mas não a única. Em 2013, recebeu a medalha de ouro na Semana Internacional de Bailado do Porto. No mesmo ano, a medalha de ouro do Youth America Grand Prix, na categoria Júnior, em Bruxelas, que lhe valeu a classificação para a mesma competição em Nova Iorque (na qual não participou por considerar a de Perm mais importante), e também uma bolsa para um curso na Amsterdam International Summer School. Já em 2014, foi premiado em Berlim, com a medalha de ouro da categoria júnior, do International Dance Festival Tanzolymp. E agora está de partida para a Coreia do Sul, onde será o único português a participar no Korean International Ballet Competition, em Seul.
Uma grande esperança para o bailado nacional, mas que não é reconhecida como tal pelo estado. Estudantes como Miguel Duarte viajam para os concursos sem qualquer apoio oficial, ficando todas despesas a cargo dos encarregados de educação. Tatiana Gonçalves, professora responsável pelas produções da EDCN, recorda mesmo: “Já aconteceu um estudante não ter capacidades financeiras para fazer a viagem e foi através da Associação de Pais que se conseguiu o apoio necessário”. Quanto ao acumular de prémios de Miguel Duarte, diz tratar-se de um “caso raro” que é “motivo de orgulho” para o Conservatório. Pedro Carneiro, diretor e professor da EDCN, por seu lado, destaca em Miguel “o empenho, a excelente condição técnica e a grande recetividade à música”, diz que “todas estas características fazem do Miguel um bailarino de enorme talento”.
Nascido em Lisboa, em 1997, Miguel Duarte começou por praticar ginástica artística, como atleta federado, recebendo vários prémios nos escalões mais jovens. Por lhe interessar uma componente mais artística e criativa, na exploração do corpo, ingressou no Conservatório Nacional aos 13 anos, sendo aluno de José Luís Vieira, Mikhail Zavialov, Catarina Moreira e Pedro Carneiro. E em 2011, fez um curso intensivo na Royal Ballet School, em Londres. Desempenhou papéis importantes em coreografias como Romeu e Julieta, com a Companhia Nacional de Bailado; Pas de tróis (Quebra-Nozes),no Festival de Dança de Leiria; Dança Russa e Arlequim (Quebra-Nozes); ou Grand Pas de deux (Quebra-Nozes). Atualmente está a preparar o espetáculo de fim de ano da EDCN, dias 11, 12 e 13 de julho, no Teatro Camões, os bailados La Bayadère, de Ludwig Minkus, e O Outono, coreografado pelo brasileiro Binho Pacheco.