De mansinho mas de uma forma segura, o investimento no arrendamento profissionalizado dá cada vez mais passos em Portugal, país onde a falta crónica de casas para arrendar obriga muitos a tornarem-se proprietários.
Na MVGM, empresa de gestão imobiliária presente em vários segmentos do mercado e que tem em carteira espaços como o Campera, o Forum Barreiro ou o Saldanha Residence, a componente residencial tem também ganho peso, refletindo o interesse dos investidores nesta área.
A empresa holandesa, e uma das líderes de mercado na gestão de imóveis para arrendar nesse país, tem vindo também a consolidar a sua unidade de negócios em Portugal nesta área desde que a lançou, em plena pandemia, no final do ano passado.
“O mercado de arrendamento em Portugal é um produto que está a ganhar visibilidade junto dos investidores, mesmo neste enquadramento da pandemia, porque do ponto de vista da crise acaba por ser um produto anti-cíclico. Para os investidores é interessante porque conseguem assim diversificar os seus portfólios. Há, assim, cada vez mais interessados em apostar no chamado segmento Multifamily ou Built-to-Rent, nomes diferentes para o mesmo conceito, cujo propósito é construir para arrendamento. Um pouco como se fez nos anos 40, 50, em que boa parte dos bairros de Lisboa foram construídos para o mercado de arrendamento. Estamos a voltar a este mercado”, sublinha Miguel Kreiseler, Managing Director da MVGM Portugal, acrescentando que muitos destes investidores estão interessados “em criar produtos para a classe média portuguesa”.
Exemplo disso é um dos grandes clientes desta nova unidade de negócios da MVGM que tem um orçamento de 30 milhões para comprar edifícios nas periferias de Lisboa para colocar no arrendamento. O fundo, que resulta de uma joint-venture entre uma empresa holandesa e inglesa, já adquiriu mais de 50 apartamentos distribuídos por cinco edifícios localizados nas periferias de Lisboa e onde se contam, por exemplo, Sacavém, Queluz e Barreiro. O objetivo é chegar ao final do ano com uma carteira de 300 unidades residenciais, cabendo à MVGM a gestão desse portfólio.
“São investidores já com experiência neste negócio nos seus países de origem e que olham para Portugal como um país com potencial, dado que este formato está pouco desenvolvido por cá. Quando olhamos para o mercado de arrendamento em Portugal percebemos que há aqui uma margem significativa para crescer porque nestes últimos 30, 40 anos, grande parte das casas que foram construídas foram para venda e neste processo o rácio entre venda e arrendamento tornou-se francamente desfavorável para o arrendamento”, aponta o responsável da MVGM, empresa que na Holanda gere mais de 100 mil apartamentos.
O produto tem atraído não só investidores que compram edifícios já construídos mas outros que estão a construir os seus próprios projetos, sendo que neste caso as casas ainda vão demorar algum tempo a chegar ao mercado de arrendamento, reforça Miguel Kreiseler.
“Neste mercado, temos investidores de diferentes tipos e a apostar em segmentos diferentes – do alto ou médio-alto até à classe média, tudo depende da localização. Temos investidores com um conjunto de unidades avulsas e outros que nos dizem que só querem comprar prédios inteiros pois só assim asseguram flexibilidade na gestão e na organização entre as várias frações. Aqueles que estão a desenvolver projetos em que os apartamentos podem ser arrendados já mobilados e aqueles que preferem arrendar casas vazias. Tudo depende de qual o target dessas casas e de qual é a perspetiva de ocupação dessas mesmas habitações”, explica ainda o diretor-geral da MVGM Portugal, referindo que “a maior parte dos projetos Multifamily estão, na sua maioria, focados na classe média, média-baixa e média-alta”.
Para estes investidores, a estabilidade é a palavra de ordem para poderem investir em Portugal. “Se queremos investidores de longo prazo, temos de ter estabilidade fiscal e legislativa. Existindo ambas, acredito que pode ser uma oportunidade muito significativa para Portugal, como país, e para o próprio Governo para voltar a utilizar o imobiliário para fortalecer a economia portuguesa. Os investidores estão disponíveis para pôr dinheiro na economia portuguesa e para fazer o mercado de arrendamento de longa duração funcionar”, afiança Miguel Kreiseler.
Em adaptação pós-pandemia está também o setor do retalho onde a MVGM tem igualmente presença ativa através da gestão de retail parks e centros comerciais, onde se contam por exemplo o Ferrara Plaza, o Saldanha Residence ou o Forum Barreiro.
“O que notámos a seguir ao desconfinamento é que alguns dos hábitos de consumo das pessoas mudaram. Se calhar hoje vendem-se muito mais ténis e calças de ganga e nas lojas que vendem mobiliário pode ser mais fácil escoar produtos para casa do que para escritórios. A pandemia está a mudar a forma como nós vivemos, trabalhamos e nos organizamos e está a obrigar o mundo a reinventar-se. Provavelmente a distribuição do tenant-mix nos centros comerciais vai mudar. Além disso, algumas atividades novas vão entrar nos shoppings e vão ganhar mais destaque e algumas até já lá estão… Vai haver uma preponderância maior das que estão ligadas à saúde, vai haver provavelmente uma preponderância maior daquilo que está ligado ao lazer e à fruição daquele espaço. E com o crescimento do comércio online, os centros comercias vão servir de interface e de ponto de comunicação, quer para o levantamento, quer para as entregas das encomendas, ganhando aqui uma preponderância adicional”, rematou ainda o responsável.