Para marcar a chegada aos 30 anos, a VISÃO lança a rubrica multimédia “Ideias com VISÃO”. Serão 30 semanas, 30 visionários, 30 ideias para fazer agora. Da ciência à saúde, das artes ao humor, das empresas ao ambiente, figuras de referência nas mais variadas áreas darão os seus contributos para pensar um Portugal melhor. Semanalmente em papel e aqui em vídeo.
A minha ideia é reabilitar a poupança como elemento estratégico para o futuro do País. Poupar é renunciar ao consumo imediato para consumir mais tarde. Hoje, as pessoas são mais convidadas a consumir – e até a endividarem-se – do que a poupar. Defendo políticas públicas, promovidas pelo Estado, que estimulem e favoreçam a ideia da poupança.
Por exemplo: em 2005, a taxa liberatória do IRS (que incide sobre os juros de depósitos, obrigações, no fundo, sobre a poupança) era de 20%; hoje, é de 28% – tratou-se de um aumento de 40% da tributação.
A política fiscal devia não só ser menos agressiva contra a poupança como ser de estímulo em relação, por exemplo, a complementos para a velhice (não substitutivos da reforma, mas complementares). Era uma maneira de o Estado dizer às pessoas: poupem 2%, 3%, 5% do vosso salário ou rendimento disponível.
Bem sei que é difícil com a inflação galopante, mas esse princípio, que é também de disciplina, podia ser uma forma de estimular a aplicação dessa poupança em planos poupança reforma, certificados do tesouro ou outros fundos que diminuíssem o risco de perda de rendimentos na altura em que eles são mais precisos, que é quando as pessoas atingem a idade da reforma.
O Estado não pode tratar da mesma maneira um pequeno aforrador, as pequenas e médias poupanças – onde até há mais dificuldades em poupar – e um especulador ou os grandes rendimentos. A medida de estimular a poupança nas classes sociais que têm mais dificuldade em poupar é economicamente justa e socialmente exigida. Tudo isto é possível desde que haja vontade.
Não há crescimento sem investimento e não há investimento sem poupança. Ou melhor, até pode haver investimento através do endividamento, mas este, quando é excessivo, acaba por ter um efeito perverso. A poupança é crucial para o desenvolvimento e crescimento do País, e também do ponto de vista das famílias e das empresas.
A taxa de poupança face ao rendimento bruto das famílias, em Portugal, é preocupantemente baixa. Já neste século, tivemos taxas de poupança à volta de 15%; em setembro de 2022, a taxa de poupança atingiu os 0,2%, ou seja, praticamente sem poupança.
Temos a mais baixa taxa de poupança em toda a Europa e, no entanto, no discurso político, no discurso institucional, do Presidente da República aos senhores deputados, passando pelos governantes e partidos da oposição, ninguém fala em poupança. Porque a poupança não abre telejornais, não rende votos. Mas é uma exigência que temos em relação às gerações que surgem. É um dever ético estimular a poupança para as gerações futuras.