Chegou a ser apelidado de genial, brilhante e visionário, entre muitos outros adjetivos que estamos habituados a ver aplicados àqueles que são os talentos mais promissores de Silicon Valley, a ‘casa’ de algumas das maiores tecnológicas do mundo. Mas a história de Anthony Levandowski termina, para já, de maneira diferente do que é habitual: com uma sentença de prisão de 18 meses e o pagamento de uma multa de 756 mil dólares, cerca de 640 mil euros ao câmbio atual, à Waymo, empresa-irmã da Google.
De acordo com a publicação TechCrunch, o tribunal distrital para o norte da Califórnia, nos EUA, concluiu que Anthony Levandowski foi responsável pelo roubo de segredos comerciais e propriedade intelectual da Waymo, a empresa de veículos autónomos que pertence à Alphabet, empresa que é dona da Google.
O perfil de ‘menino prodígio’ de Anthony Levandowski está ligado ao facto de ter sido uma das pessoas que ajudou a fundar a divisão de veículos autónomos dentro da Google, em 2009. Mas quando saiu da Waymo, em 2016, juntamente com outros três ‘veteranos’ da empresa, foi quando começou o braço de ferro na justiça.
Poucos meses depois de sair da gigante norte-americana, Levandowski, Lior Ron, Claire Delaunay e Don Burnette fundaram a startup de sistemas de condução autónomos e camiões que se conduzem sozinhos Otto. E poucos meses após a criação da startup, esta foi comprada pela Uber, com Anthony Levandowski a juntar-se como um dos executivos de topo da então divisão de carros autónomos da tecnológica especializada em soluções de mobilidade.
Não tardou muito até que a Google acusasse, em dois processos separados, Levandowski e a Uber da utilização de tecnologia proprietária que teria sido roubada pelo engenheiro norte-americano aquando da sua saída da empresa. Em 2018, a Google e a Uber chegaram a um acordo. O caso com Levandowski só agora conhece um desfecho.
“Os últimos três anos e meio forçaram-me a reconhecer aquilo que fiz. Quero pedir desculpa aos meus colegas da Google por trair a sua confiança e à minha família pelo preço que pagaram e vão continuar a pagar pelas minhas ações”, disse Levandowski em reação à decisão do tribunal.
O engenheiro de 40 anos pretendia uma pena constituída por uma multa, 12 meses de prisão domiciliária e 200 horas de trabalho comunitário. A decisão acabaria por ser bem mais dura. “A prisão é a resposta [para este caso]”, disse o juiz William Alsup, responsável por este processo. A pena só começará a ser cumprida assim que a situação pandémica, provocada pela Covid-19, melhorar nos EUA.
“O roubo de segredos de tecnologia autónoma pelo Anthony Levandowski foi tremendamente perturbadora e prejudicial para a Waymo, constituiu uma traição e os efeitos poderiam ter sido mais severos se [o roubo] não tivesse sido detetado”, comentou um porta-voz da Waymo em reação à sentença.
Mas a história do triângulo Levandowski-Google-Uber promete novos capítulos num futuro próximo. O agora condenado por roubo de informações secretas moveu, em julho, um processo contra a Uber, alegando que a empresa nunca chegou a cumprir vários dos princípios de acordo de aquisição da Otto e que o acordo feito entre a Uber e a Waymo prejudicam o seu futuro, pois uma das cláusulas é, alegadamente, a de que Levandowski nunca mais poderá trabalhar para a Uber.