
Goran Marby, o primeiro não americano a ser escolhido para CEO do ICANN, vai dar início a uma nova era na gestão da Internet a nível mundial
ICANN

Pedro Veiga, presidente da Internet Society Portugal
Steve Crocker, Chairman da ICANN, anunciou que, a partir de Maio de 2016, a organização terá como novo CEO o sueco Göran Marby, que irá substituir Fadi Chehadé no cargo no final desde 2012.
O processo de escolha de um novo Chairman para a ICANN tinha-se iniciado em Junho de 2015, por decisão do Conselho de Diretores, através da criação de uma comissão de seleção liderada por George Sadowsky. Foram recebidas candidaturas, feita uma escolha dos melhores candidatos e conduzidas entrevistas que vieram a culminar na decisão de escolha de Göran Marby.
Esta escolha é muito interessante por várias razões. Em primeiro lugar é o primeiro não americano a liderar a ICANN. Claro que Fadi Chehadé tinha uma experiência e uma vivência cultural muito diversificadas, pois é filho de pais egípcios, nascido no Líbano, mas viveu nos Estados Unidos da América desde tenra idade e tem, também, cidadania americana e uma vida profissional muito centrada neste país. Mas, talvez mais importante, Göran Marby é, até agora, o Diretor-Geral da Autoridade Sueca de Correios e Telecomunicações, o regulador sueco do setor. Trata-se, pois, de alguém que vem da regulação “convencional” para a organização de gere aspetos globais da internet, designadamente os nomes de domínios globais e os endereços intrínsecos aos protocolos da internet, tais como os endereços IPv4, IPv6 e de ASs (os sistemas autónomos). Aqui será interessante ver, acreditamos, como as diferentes “culturas” se complementam. Claro que o regulador sueco já tinha uma linha de atuação muito aberta face aos reguladores mais tradicionais, pelo que aqui poderemos ter surpresas agradáveis para o futuro da internet mundial.
A entrada de Göran Marby acontece numa fase avançada de vários processos, tais como o da criação de novos domínios de topo (já existem muitas centenas de novos domínios de topo, tais como .WINE, .BABY, .BERLIN), domínios de topo em alfabetos não latinos (em cirílico, árabe, hindu, chinês, …) mas, talvez politicamente mais sensível, a definição do futuro da função da IANA e a redução do papel tutelar que o governo dos Estados Unidos vem tendo de supervisão.
É também com expectativa que iremos ver como é que o IGF (Internet Governance Forum), onde a ICANN tem um papel relevante devido à natureza dos assuntos que trata, poderá colher frutos da experiência de um novo CEO, proveniente no mundo dos operadores de telecomunicações mais convencionais.
O esforço iniciado por Fadi Chehadé com o objetivo criar pontos de presença (hubs) da ICANN em vários pontos do globo será certamente para prosseguir, mas será importante observar a que ritmo estes se irão consolidar e que contributo isso terá para uma internet mais centrada em chegar a mais 1.000 milhões de utilizadores.
Também o enorme crescimento da ICANN em termos de pessoal era criticado por uns e elogiado por outros, e será interessante ver a dinâmica que o novo CEO irá imprimir à evolução da organização para que, por um lado, se consolide mas, por outro lado, aumente a sua abrangência global para que a Internet seja cada vez mais global mas sem se fragmentar.