De acordo com o Ars Technica, David Miranda, parceiro do jornalista Glen Greenwald que tem escrito sobre os casos de espionagem da NSA para o jornal The Guardian, foi detido em Heathrow durante nove horas. As autoridades invocaram uma lei antiterrorismo para o deter, mas o objetivo era diferente: interrogá-lo sobre as reportagens de fundo feitas sobre os casos de espionagem da NSA, que o parceiro e Laura Poitras, realizadora norte-americana, tinham feito.
O The Guardian indica que Miranda regressava de uma viagem a Berlim com Laura Poitras, quando as autoridades o detiveram. Foi informado que seria interrogado de acordo com a lei britânica antiterrorismo, conhecida como Schedule 7 of the Terrorism Act 2000. A lei dá as autoridades poder para deter, interrogar e revistar pessoas em aeroportos. Quem não cooperar está a cometer um crime.
Nove horas é também o tempo máximo que as autoridades podem deter alguém. Depois disso, terão de soltar o suspeito ou efetuar uma acusação formal. Mais de 97% das revistas feitas ao abrigo desta lei demoram menos de uma hora e só uma em 2 mil pessoas fica detida mais de seis horas.
Greenwald diz que o que as autoridades fizeram é uma forma clara de pressionar a imprensa. “É óbvio que eles tinham zero suspeitas de que David estava associado a uma organização terrorista. Em vez disso, gastaram o tempo a interrogá-lo sobre as reportagens sobre a NSA que Laura Poitras, o The Guardian e eu estamos a fazer”, escreveu o jornalista no jornal.
Freenwald acrescentou que “abusaram completamente das suas próprias leis antiterrorismo por razões que nada têm a ver com o terrorismo – um potente lembrete do quão frequentemente os governos mentem quando afirmam que precisam dos poderes para parar ‘os terroristas’ e o quão perigoso é dar poderes ilimitados a políticos em seu nome”. O jornalista acrescenta que prender um familiar de um jornalista é despotismo: “Até a Máfia tinha regras éticas sobre atacar membros das famílias por quem se sentiam ameaçados”.
David Miranda acabou por ser libertado, mas as autoridades confiscaram o seu telefone, portátil, máquina fotográfica, cartões de memória, DVDs e consolas.