Um dia o nosso carro pedirá um upgrade. E esse dia está a chegar, de acordo com as previsões da Bosch. Volkmar Denner, CEO da marca alemã, subiu ao palco do Bosch Connected World, que arrancou hoje em Berlim, com uma missão bem definida: apresentar a peça que faltava ao puzzle que garante que, um dia, qualquer carro – ou qualquer outro equipamento – terá a capacidade de propor um upgrade e conectar-se à rede para ativar novas funcionalidades ou partilhar recursos. Como é que tudo isso pode ficar interligado? Denner responde numa única frase: «Lançamos hoje ao público a Bosch IoT Cloud».
Já existem grandes operadores de cloud no mundo – mas a Bosch acredita que pode fornecer aquilo que IBM, Google ou Microsoft nem sempre estão em condições de disponibilizar: a conexão com carros, eletrodomésticos, ou maquinaria industrial. A nova cloud, que segue os standards e promove o código aberto, vai começar a operar, nesta primeira fase, confinada ao mercado alemão. A Bosch fez ainda saber que investiu na instalação de servidores na cidade de Estugarda para suportar o novo serviço. Em 2017, prevê-se que a nova cloud possa ser usada por outras marcas, Ainda não há data de lançamento prevista para Portugal.
Volkmar Denner acredita que a batalha pela cloud que, mais tarde ou mais cedo, será travada pelas grandes marcas tecnológicas terá de ser decidida por quem a usa: «Queremos colocar o o consumidor na posição privilegiada de poder escolher serviços, o local onde coloca os dados e a plataforma quer usar».
A marca alemã pretende tirar partido da quota de mercado ganha nos eletrodomésticos, automóveis e equipamentos industriais para expandir o acesso à Net em equipamentos e objetos que acompanham o dia-a-dia do consumidor. Com o anúncio de hoje, a marca alemã conclui a estratégia dos três S – o S de software; o S de sensores; e o S de serviços.
A Bosch reivindica o pioneirismo desta solução transversal que tanto contempla os típicos serviços e aplicações baseadas na Internet, como ainda tem em vista as soluções em que o dispositivo tem uma app que só se conecta esporadicamente, como ainda abrange réplicas virtuais de dispositivos, apps distribuídas pelos vários dispositivos, ou a vertente social que pode ser potenciada pela tecnologia.
Denner dá o exemplo: «Podemos fazer de um carro um sensor». E é com base nessa capacidade de recolher e enviar informação que se poderá criar uma rede veicular, com automóveis que automaticamente indicam lugares de estacionamento, mas também é a partir destas mesmas soluções que se torna possível criar “duplos” digitais que poderão ser úteis para adaptar o prémio do seguro ao perfil do utilizador. A um nível mais avançado, torna-se possível instalar num automóvel dispositivos que analisam o que o condutor vai fazendo ao volante, pode acionar serviços de emergência ou recomendar uma ida à oficina. A HUK-Coburg, uma seguradora alemã, que esteve presente no evento, conta tirar partido deste potencial da cloud com o lançamento de um serviço que tira partido da monitorização dos vários clientes enquanto estão na estrada para lançar uma nova gama de serviços.
Os números da Bosch têm muitos zeros à direita e podem servir de rampa de lançamento para a nova cloud: hoje, há mais de cinco milhões de dispositivos conectados à Bosch IoT Suite, já há 50 soluções suportadas pela Bosch IoT cloud, e 47% dos equipamentos estão aptos a operar na Internet. Denner e os restantes líderes da Bosch estão convictos de que é apenas o início desta solução que pretende seguir as normas tecnológicas e fomentar acordos com parceiros. O que não impede o CEO da Bosch de tomar as cautelas necessárias quanto ao futuro: por três vezes, Denner reiterou o compromisso com a segurança e a privacidade dos utilizadores «end to end», que é como quem diz, de toda a ligação – do dispositivo em que o utilizador desencadeia um comando até ao dispositivo que remotamente é ativado ou recolhe informação, e sem esquecer os servidores onde a informação é armazenada e processada.
Como seria de esperar num dia de lançamento, o executivo alemão prefere não mencionar os riscos associados à espionagem industrial, comercial ou política, não faz alusões sobre o risco que a IoT pode ter na monitorização da atividade humana, ou no novo grau de dependência de uma rede que, de tão grande, ninguém sabe onde termina ou acaba. Mas compreende-se a ênfase colocada na segurança e da privacidade: além da vertente técnica que, mais tarde ou mais cedo, encontrará as soluções necessárias, a Bosch ou qualquer outra empresa que aposta no IoT e na Cloud tem como desafio prioritário superar os receios de consumidores, empresários, ou responsáveis políticos e dar a conhecer o potencial de uma nova era que tem por pilar a industrialização 4.0 e o fim de fronteiras e burocracias no que toca ao lançamento de serviços, produtos e gestão de equipamentos. É esse o novo mundo que a Bosch IoT Cloud terá de desbravar nos tempos mais próximos.