O SeaNet e ALIR são ainda desconhecidos da maioria dos portugueses, mas já despertaram o interesse dos peritos da Agência Europeia de Defesa (EDA), que os selecionaram para uma lista de 30 projetos inovadores que estão bem colocados para serem abrangidos pelos Fundos Europeus Estruturais e de Investimento (Portugal 2020, no nosso País). O relatório da EDA estima que cada um destes dois projetos que contam com a participação do Ministério da Defesa Nacional (MDN) poderá vir a beneficiar de um financiamento máximo de 900 mil euros. O que têm de especial estes dois projetos? Duas frases chegam para a resposta: O ALIR pretende desenvolver compósitos alternativos para as placas usadas nos coletes antibala; o SeaNet propõe-se a desenvolver um sistema que permita gerir conjuntos de robôs subaquáticos para missões civis e militares.
SeaNet e ALIR foram escolhidos entre 13 projetos de empresas ou instituições portuguesas que se submeteram à avaliação da EDA, com o propósito de apurar o potencial para receber um futuro (e ainda hipotético) apoio do Portugal 2020. «A seleção da EDA funciona como um aval, que confirma que esta ideia tem futuro e pode ter interesse», explica Luís Madureira, um dos líderes da OceanScan, empresa portuense que tem vindo a desenvolver o projeto SeaNet em parceria com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e o Centro de Investigação Naval da Marinha Portuguesa (CINAV).
Luís Correia, investigador do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI) e um dos responsáveis pelo projeto ALIR, confirma que a seleção da EDA, apesar de não garantir qualquer financiamento, pode ajudar a valorizar os cartões de visita das empresas selecionadas: «A escolha do projeto ALIR abre perspetivas no que toca à participação em projetos da EDA, e de outros organismos europeus».
O ALIR junta investigadores do Centro de Investigação da Academia Militar (CINAMIL), o Instituto de Materiais de Aveiro (CICECO), e das empresas Rebelco e X.Aerosystems. Caso seja bem sucedido, o consórcio pode abrir caminho a uma nova geração de placas balísticas usadas nos coletes à prova de bala. Para alcançar esse objetivo, os investigadores propõem-se a substituir alguns dos compósitos de matriz termoendurecível que são usados para produzir as placas balísticas da atualidade por compósitos de matriz de termoplástico. «Além de aumentar o desempenho balístico, estes compósitos permitem criar painéis de adequados à forma do corpo humano», garante Luís Correia.
O relatório da EDA revela ainda que o projeto ALIR não se fica pela produção de uma nova geração de coletes à prova de bala. Também no setor aeronáutico e na proteção de infraestruturas esta solução poderá ter aplicações.
O projeto SeaNet, também não se esgota nos propósitos militares. Pescas, deteção de poluição ou sistemas de comunicações são algumas das missões que poderão tirar partido das ações levadas a cabo por um conjunto de submarinos robóticos. Os mentores do projeto admitem poder vir a desenvolver novas versões de submarinos, mas lembram que é o desenvolvimento de um sistema de «inteligência de grupo» que deverá concentrar grande parte dos esforços de investigação do projeto.
«Os projetos selecionados no âmbito desta call, ou qualquer outro que seja aprovado no âmbito do programa Portugal 2020 e onde haja participação de entidades na estrutura do MDN, têm sempre e obrigatoriamente como requisito a sua aplicação dual (civil-militar). No âmbito das suas atribuições, as Forças Armadas têm contempladas missões de caráter não-militar, tais como missões de busca e salvamento, apoio em caso de catástrofes, missões de interesse público, missões no âmbito da proteção civil, ou até mesmo as missões de apoio à paz em países de interesse nacional ou no âmbito das alianças de que Portugal faz parte. Assim, existem impactos óbvios destes projetos na operacionalidade das Forças Armadas», explica um e-mail enviado pelos serviços institucionais do Ministério da Defesa Nacional (MDN) para a Exame Informática.
O MDN refere ainda que os projetos que mereceram uma menção positiva da EDA vão contar com apoio estratégico da Direção-geral de Recursos da Defesa Nacional ou dos diferentes Ramos das Forças Armadas no que toca à identificação de necessidades, requisitos, recursos humanos e ensaios das diferentes soluções que vierem a ser desenvolvidas.
O SeaNet e o ALIR podem ser as mais recentes atrações no que toca à investigação na área da defesa que tem sido levada a cabo investigadores nacionais, mas não são os primeiros a merecer uma avaliação positiva da EDA. Em 2014, o projeto Turtle, que é liderado por investigadores do Inesc Tec, no Porto, integrou a lista de sete iniciativas distinguidas pela Agência Europeia. O projeto, que já garantiu fundos estruturais necessários, pretende desenvolver submarinos robóticos que podem operar a elevadas profundidades.
No vídeo inserido nesta página pode conhecer um pouco melhor a atividade que a OceanScan e os submarinos que têm sido desenvolvidos pela empresa portuguesa.