Joana Baptista, Maria Francisca Coelho, Mariana Sousa e Rute Silva: nenhuma destas jovens é engenheira ou designer industrial – mas todas elas estão atualmente a trabalhar no desenvolvimento de um minissatélite, que vai ser lançado entre 10 e 14 de Abril 2013 num foguetão da Agência Espacial Europeia (ESA), a partir da cidade holandesa de t’Harde.
Há pelo menos três características que distinguem esta equipa que acaba de se qualificar para a final do campeonato europeu de lançamento de Cansat: é uma equipa totalmente feminina; as quatro são alunas do 10º ano da Escola Básica e Secundária de Santa Maria, Açores, e todas vivem naquela que é, provavelmente, a capital da indústria aeroespacial portuguesa – ou não fosse naquela pequena ilha no meio do Atlântico que se encontra uma das estações de rastreamento de satélites da ESA e futuramente uma das estações de rastreamento da constelação Galileo (que pretende atuar como alternativa ao GPS).
Juan Nolasco, professor de Informática, reitera que a ideia de participar no campeonato europeu de CanSat «é de todos». E nega ter dado qualquer ajuda menos lícita no desenvolvimento do satélite que tem as dimensões de uma lata de refrigerante: «Comecei por dar um workshop de programação em C e Arduino e depois distribuímos funções por cada uma das alunas. Mariana Sousa ficou com a programação; a Rute Silva com a eletrónica; a Joana Baptista com as telecomunicações; e a Maria Francisca Coelho com a aerodinâmica».
O túnel de vento made in Santa Maria
Hoje, o projeto conta com o apoio de nomes conhecidos da indústria aeronáutica e aeroespacial como a Nav ou a Edisoft, e também de entidades como a Ciência Viva, o município de Vila do Porto e Secretária Regional da Ciência e Tecnologia dos Açores. Apesar da ajuda, a equipa teve de puxar pela criatividade para superar os limites da insularidade, que obrigam as jovens investigadoras a recorrer a encomendas de componentes a lojas dos EUA, que nem sempre chegam a horas. Com base na Internet, a equipa descobriu ainda como fabricar um túnel de vento – e sem delongas mostrou a uma oficina local a melhor forma de construir o dispositivo que permitirá testar, em ambiente de simulação, a aerodinâmica do pequeno CanSat desenvolvido pela equipa Air Sat One.
«Já fizemos testes preliminares com alguns modelos. Todos chumbaram, exceto um. E é esse modelo que vai ser aperfeiçoado nos próximos tempos, com testes de aerodinâmica e integração e distribuição de componentes eletrónicos e de bateria», explica Juan Nolasco, .
Quando chegar a data da final do campeonato europeu organizado pela ESA, o Cansat criado pela Air Sat One deverá estar em condições de executar dois tipos de missão: uma primária e comum a todas as equipas, que exige a o registo de temperatura e respetivo envio através de comunicações que rondam os 434 MHz; e uma secundária que é escolhida por cada equipa e que determina a seleção para a esta final. No caso da equipa Air Sat One, a missão secundária passou pela substituição dos tradicionais paraquedas por uma forma aerodinâmica que permitirá ao satélite planar durante a queda.
De acordo com as regras da competição, os Cansats não podem demorar mais de quatro minutos a chegarem ao chão, depois de serem lançados de um foguetão a um quilómetro de altitude. A máquina não pode ter um custo superior a 600 euros. E é possível usar qualquer tipo de material, desde que não seja pirotécnico.
Juan Nolasco, que preparou a equipa com a ajuda do professor de Física Hélder Chaves, admite que a vitória pode não ser o mais importante, numa competição onde os participantes são obrigados a produzir três relatórios de desenvolvimento de protótipos, e a responder a questões técnicas de um júri que só aceita respostas em inglês. «A expectativa é que as alunas consigam fazer aquilo que pretendem, que aprendam com esta experiência e que sintam a vocação da engenharia», conclui.