Os bancos portugueses aproveitaram a subida acentuada das taxas de juro para impulsionar os seus resultados. CGD, Santander, BCP, Novo Banco e BPI lucraram, em conjunto, €4.309 milhões no ano passado, um valor 65% superior ao registado em 2022, exercício que já tinha sido bastante positivo para as contas do setor. As condições financeiras e da economia aparentam correr de feição para a banca, já que os resultados de 2023 são mais de quatro vezes superiores ao lucro médio apresentado nos cinco exercícios anteriores.
Apesar de a melhoria dos resultados ser já esperada, os analistas da Standard & Poor’s consideraram que os números foram ainda mais altos do que o previsto. Ainda antes de serem divulgados os dados financeiros da Caixa Geral de Depósitos na passada sexta-feira, os especialistas da agência de notação financeira, referiam, numa nota a investidores, que “a rentabilidade dos bancos portugueses melhorou de forma notável em 2023, ficando acima das nossas expectativas”.
A explicação para esta evolução é relativamente simples. Com o elevado peso do crédito a taxa variável no balanço dos bancos, a subida rápida das taxas de juro permitiu ao setor aumentar de forma significativa a margem financeira. Em simultâneo, as subidas das remunerações dos depósitos foram mais lentas. Assim, o ganho com a diferença entre o que os bancos recebem nos empréstimos e o que pagam para se financiar cresceu 68% em 2023 para €9.269 milhões.
O bónus trazido pelo ciclo mais agressivo de sempre de subida de juros na Zona Euro – que levou a Euribor a 6 meses de uns negativos -0,50% para mais de 4% em pouco mais de um ano – surgiu numa fase em que as principais instituições financeiras nacionais já estavam com os seus balanços e estruturas de custos relativamente limpas, após anos de dolorosos programas de redução do malparado e de custos operacionais. E isso permitiu potenciar a rentabilidade dos bancos.
A subida das taxas de juro aumentou bastante o esforço de particulares e empresas para se manterem à tona nos seus empréstimos com taxa variável. Mas, apesar do fardo cada vez mais pesado, tem-se conseguido evitar uma subida significativa do malparado. Os analistas da S&P destacam que apenas surgiu uma quantidade limitada de novos créditos problemáticos.
Ainda assim, os bancos aparentam estar mais cautelosos sobre eventuais perdas que possam vir a sofrer com crédito e outros ativos. Os lucros das cinco maiores instituições financeiras só não foram ainda mais altos porque as provisões e imparidades quase que duplicaram, passando de €1.200 milhões para €2.100 milhões. Porém, uma parte relevante deste valor diz respeito a dinheiro colocado de lado pelo BCP para fazer face a riscos jurídicos relacionados com os empréstimos em francos suíços do seu banco na Suíça. Incluindo nos cálculos apenas as imparidades e provisões do BCP na atividade doméstica, estes custos dos cinco bancos teriam passado de €570 milhões para €1.370 milhões.
CGD compensa prejuízos e tem o maio lucro da banca nacional
A Caixa Geral de Depósitos manteve o estatuto de banco mais lucrativo do País. A instituição divulgou na passada sexta-feira um lucro de €1.291 milhões, um recorde no setor. E conseguiu apagar as perdas registadas durante os tempos da troika e nos anos seguintes.
Entre 2017 e 2023, o banco público teve resultados líquidos acumulados de €4.533 milhões, valor que já compensa as perdas de €3.841 milhões sofridas entre 2011 e 2016 e que forçaram o Estado a recapitalizar a instituição financeira. Desde que regressou aos lucros, a CGD já distribuiu ao Tesouro, em dividendos, €1.675 milhões. E conta pagar mais €525 milhões este ano. Em 2017, o Estado recapitalizou o banco em €3.900 milhões, operação que envolveu uma nova injeção direta de €2.500 milhões dos contribuintes.
No ranking dos mais lucrativos, seguem-se o Santander Totta e o BCP, com resultados líquidos de €895 milhões e €856 milhões, respetivamente. Já o Novo Banco deu mais uma forte prova de ter encontrado o caminho da rentabilidade, ao reportar um lucro de €743 milhões. Foi o terceiro resultado anual positivo, mas ainda insuficiente para compensar as perdas sofridas pela instituição que surgiu dos escombros da resolução do BES.