Os lucros das cotadas podem ter vários destinos. As empresas têm a possibilidade de usar uma proporção dos resultados para remunerar os acionistas, avançar com novos investimentos, reduzir dívida ou reforçar o valor que têm em liquidez, de forma a terem uma rede de segurança mais forte para fazerem face a imprevistos. No ano passado, pagaram dividendos recorde, referentes ainda ao exercício de 2021, exercício em que os resultados recuperaram fortemente do impacto sofrido com a crise pandémica. Em 2022, os lucros subiram ainda mais, atingindo valores históricos. Mas, tendo em conta as 11 propostas para a remuneração aos acionistas já conhecidas, os gestores das cotadas nacionais aparentam estar cautelosos. Além da incerteza económica, também o facto de alguns resultados terem sido impulsionados por operações não recorrentes pode ajudar a explicar esta maior moderação.
O valor a distribuir pelos acionistas, por parte daquelas empresas, deverá cair de €2 544 milhões para €2 329 milhões, segundo cálculos da EXAME. O rácio payout – peso da remuneração aos acionistas no bolo total dos resultados – deverá cair para o valor mais baixo da última década. Do lucro obtido no ano passado, 53% irá para aos bolsos dos acionistas. A média dos últimos anos no PSI era de um rácio de pagamento na ordem de 73%. As contas não incluem o scrip dividend da EDP Renováveis, nem as recompras de ações próprias por parte da Galp e dos CTT. Em vez de um dividendo em dinheiro, aquela empresa do Grupo EDP propõe um programa de remuneração flexível para os acionistas, que passa pela entrega de direitos sobre novas ações da cotada que poderá implicar um montante máximo de instrumentos avaliados em 275 milhões. No entanto, mesmo contabilizando este valor no bolo total dos dividendos, o rácio payout seria de 59%, bem abaixo da média dos últimos anos.