O “Clube dos Moderados” regressou à Portugal em Exame, evento que se realizou esta quinta-feira. Francisco Assis e Bagão Félix refletiram sobre a atualidade política e são unânimes em sugerir mais diálogo e entendimento entre os partidos. O presidente do Conselho Económico e Social aconselha que nos próximos tempos até às eleições de 30 de janeiro os políticos tenham “a preocupação de apresentar com clareza o que pensam sobre os mais diversos assuntos, mas sem que isso impeça compromissos políticos” de forma a evitar a continuação de uma “polarização excessiva do debate político”.
Já António Bagão Félix acredita que “com maior ou menor dificuldade chegar-se-á a entendimentos que eliminem esta governação a retalho que é difícil perceber do ponto de vista pragmático com partidos que estruturalmente são contra o euro, esta a Europa e contra a NATO e em que é difícil encontrar pontos em comum”, referindo-se à solução governativa seguida em Portugal nos últimos anos com um governo minoritário PS dependente do Bloco de Esquerda e/ou do PCP. No entanto, o antigo ministro das Finanças vê algumas dificuldades no sentido de voto. “Tenho um problema. Sou convictamente democrata-cristão e não tenho partido onde votar”, confessou. E acrescentou: “Tenho de fazer um juízo e fá-lo-ei tendo em vista soluções de governabilidade e estabilidade”.
Francisco Assis salientou que os dois principais partidos, PS e PSD, “são estruturantes e têm de construir um diálogo”. E recorda que em todas as grandes opções feitas no pós-25 de abril esses “partidos tiveram um papel importantíssimo”, o que no seu entender terá de ser repetido para que País avance nas reformas estruturais.
Reformas estruturais e salário mínimo
O presidente do CES defende que “precisamos de alguns entendimentos de regime em Portugal”. E dá o exemplo da Saúde. “Para preservar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) temos de fazer reformas sérias”, observando que nos últimos anos houve “uma alteração profunda e quase clandestina no modelo de saúde que foi feita sem qualquer racionalidade”. E, na visão de Francisco Assis, para resolver os problemas da Saúde será necessário um “consenso forte”.
Já sobre o aumento do salário mínimo nacional, que subirá de 665 euros para os 705 euros em 2022, é algo que merece aplauso. Apesar de realçar que esta questão, e a dos salários médios, deve ser discutida em sintonia com a evolução da produtividade, Bagão Félix diz que “do ponto de vista social e da dignidade das pessoas é evidente que um aumento do salário mínimo é-me simpático e aplaudo”. E desabafa: “Em termos macro custa-me a perceber que o aumento do salário mínimo nacional possa por em causa muitas empresas, porque então estamos a falar de empresas ficcionais e alguma coisa está mal”.
No entanto, Bagão Félix alertou para o peso muito baixo que os rendimentos do trabalho têm em Portugal no rendimento nacional. Realça que a taxa de pobreza relativa anda entre os 16% e os 20%. Mas se fosse calculada antes dos efeitos redistributivos da Segurança Social, ultrapassaria os 40%. “Está a pedir-se um esforço brutal ao sistema público de Segurança Social porque a montante a economia não é capaz de resolver na base salarial essa insuficiência de rendimento”, concluiu.
Também Francisco Assis concorda com a subida do salário mínimo, mas realça que “a questão fundamental do País é a produtividade”. Já sobre a forma como as discussões têm ocorrido na Concertação Social, o presidente do CES revela que “nos últimos meses o processo foi contaminado pela questão do Orçamento do Estado, o que prejudicou toda a discussão sobre a agenda do trabalho digno”.
Os dois participantes do painel fizeram ainda um elogio ao ser-se moderado. Bagão Félix explica que “vivemos excessivamente numa de duas coisas que não gosto: o mais ou menos que roça com a indiferença; e depois temos o extremamente e o absolutamente”. Já Francisco Assis afirma que “hoje o que é difícil é ser moderado”. Diz que isso “exige coragem, e é-se visto como um traidor, sem força, sem vigor”. E conclui: “Ser moderado é ser radical”.