Antes da pandemia, a Olitrem produzia equipamentos frigoríficos sobretudo para hotelaria. A crise de saúde pública paralisou o turismo e obrigou-a a colocar 40% dos colaboradores em layoff. Mas por pouco tempo, já que redirecionou a atividade para a indústria farmacêutica, em crescimento nos últimos meses. Clientes internacionais, que antes compravam à China produtos com menos qualidade, começaram a comprar à Olitrem. “Passaram 100% das compras para nós”, diz Armando Ferreira, administrador da Olitrem.
O caso da Olitrem (que, por exemplo, vende equipamentos para a conservação de vacinas em farmácias em Inglaterra) foi um dos analisados esta quinta-feira, 20 de maio, no Fórum PME Global, iniciativa Ageas Seguros e Ordem dos Economistas, de que a EXAME é parceira – pode rever a iniciativa aqui. Realizado em Santarém, foi o primeiro evento realizado em 2021 deste ciclo e também o primeiro em cerca de um ano num modelo híbrido, com público na plateia – testado antes do início do evento.
O fórum analisou ainda o caso da Adega Cooperativa do Cartaxo, que transformou a sua estrutura produtiva para vender produtos mais sofisticados. “Havia um estigma, nos anos 1980 e 1990, em relação aos vinhos de adega”, reconheceu Fausto Silva, diretor executivo da instituição. “A forma de contorná-lo foi investir na estrutura produtiva, na modernização.” Apostaram em castas melhores, que permitiram melhorar o vinho e vendê-lo mais caro, permitindo financiar novas transformações.
Distrito diverso
A diversificação da economia regional, de que estas empresas são exemplo, tem permitido ao distrito de Santarém enfrentar a pandemia. “A exportação aumentou 8,6% na região da Lezíria, enquanto o Médio Tejo perdeu 21%,” exemplificou Domingos Chambel, presidente da NERSANT – Associação Empresarial da Região de Santarém. Contudo, apesar de se ter conseguido esta compensação intra-regional, mantém-se o problema estrutural da falta de mão de obra especializada e da ligação empresas-conhecimento, pelo que o responsável defendeu a necessidade de ministrar grande parte dos cursos de formação e licenciaturas dentro das empresas.
Sobretudo quando os talentos falam cada vez mais alto na hora de as empresas escolherem onde investir e a localização se torna um pormenor, lembrou Paulo Carmona. “A distância dos grandes centros foi atenuada em função do digital,” defendeu o membro da direção da Ordem dos Economistas. “Vai haver mais investimento em Santarém por deslocalização de investimentos e empresas, e esta passa a ser uma Grande Lisboa alargada,” vaticinou.
Uma opinião corroborada por Abel Aguiar: “Qualquer cidade tem capacidade para ser hub tecnológico, vai depender da existência de talento e das condições de vida,” afirmou o diretor executivo para Parceiros e PME da Microsoft Portugal.
Prevenir para não remediar
Na sessão, moderada pelo comentador Camilo Lourenço e que teve abertura e encerramento do CEO da Ageas Seguros, José Gomes, defendeu-se ainda que as empresas devem apostar numa política de prevenção para evitar acidentes, sobretudo os seus custos indiretos (atrasos na produção, riscos reputacionais, substituição de profissionais) que, segundo a Ageas, são quatro vezes maiores do que os diretos (avarias ou perdas por exploração, por exemplo).
A este propósito, Alexandra Catalão, diretora de Marketing da Ageas Seguros, insistiu que por cada euro investido na prevenção se obtém um retorno de 2,20 euros. E Gustavo Barreto, diretor geral de Distribuição e Marketing na Ageas, notou que as empresas que tinham cultura de prevenção e planos de continuidade de negócio “foram as que reagiram melhor nestes meses de pandemia”.