Elisa Ferreira recorda que ficou “muito embaraçada” com o título que deu capa à EXAME de setembro de 1993, há quase 26 anos. O título era A Ministra do Norte, o que considerou “um pouco despropositado”, mas a atual vice-governadora do Banco de Portugal tem a sua explicação para a escolha editorial: “Tinha acabado de me tornar vice-presidente da Associação Industrial Portuense [então liderada por Ludgero Marques], não era vulgar contratar uma mulher para essa função e, por outro lado, era uma forma de chamar a atenção para a relevância da indústria nortenha, já que a capacidade empresarial do Norte nem sempre foi devidamente valorizada pelos órgãos decisórios”, explica. Acresce que, naquela altura, eram mais visíveis as rivalidades entre o Norte e o Sul do País, protagonizadas com frequência e eloquência pelos líderes das associações empresariais de Lisboa e do Porto, AIP e AIPortuense, respetivamente.
Acabou por ficar ao lado de Ludgero Marques apenas dois anos, pois António Guterres lançou-lhe o desafio de integrar o seu governo, como ministra do Ambiente, após as eleições de outubro de 1995. “Foi completamente inesperado e imprevisto, acabei por aceitar para prestar um serviço público e por achar que fazia sentido aquilo que me propunham fazer”, adianta Elisa Ferreira, que ainda hoje não é filiada em qualquer partido político. Ficou quatro anos e depois mais dois como ministra do Planeamento.
Entretanto, o governo caiu e, mesmo sem ser filiada no PS, integrou a bancada parlamentar socialista, como independente, ao lado do atual primeiro-ministro, António Costa, e de Ferro Rodrigues, que, à época, liderava o partido. E foi precisamente a convite deste que partiu numa longa viagem para Bruxelas. Elisa Ferreira foi deputada no Parlamento Europeu, ao longo de 12 anos, onde participou em muita da nova legislação produzida para o setor financeiro e acompanhou de perto todo o dossier da União Bancária. Também por isso foi convidada para o Banco de Portugal, onde está desde junho de 2016. O seu principal desafio nas funções de vice-governadora “é trazer estabilidade ao sistema financeiro, de modo a que este possa voltar a ser exatamente aquilo para que existe, recolher as nossas poupanças e transformá-las em crédito produtivo, que crie riqueza e postos de trabalho”.
A confiança no sistema financeiro foi posta em causa e as críticas à atuação do Banco de Portugal não pararam. “De algum modo, percebo-as, porque muitas vezes, quando os assuntos são complicados, é preciso encontrar alguém sobre quem se centralizem as críticas. Todos os supervisores foram criticados, é difícil voltar atrás e perceber o quadro cultural e legislativo que suportava as intervenções, à época, dos supervisores”, defende.