A Madeira leva 100 anos como destino turístico. O Algarve 60. Os primeiros grandes grupos hoteleiros arrancaram na década de 1970. Mas só nos últimos anos o País despertou internacionalmente como um dos maiores destinos turísticos, conquistando recordes de visitantes e colocando a oferta hoteleira nas bocas do mundo. E conseguiu finalmente que a qualidade se refletisse no preço.
“O mercado demorou muito tempo a perceber o potencial do turismo,” lamenta Dionísio Pestana. “O sítio é o mesmo, o pessoal, a simpatia, a segurança, a beleza já existiam e nunca tínhamos conseguido atingir os preços de hoje,” acrescentou o presidente do Grupo Pestana na conferência Portugal em EXAME, realizada esta quinta-feira.
O que mudou então? Mudou a promoção e comunicação do País. E, entretanto, houve também uma outra pedra que se mexeu: o fim da “concorrência desleal” de destinos como o Egito e a Turquia, prejudicados na última década pelos efeitos de receio relacionados com terrorismo e com a Primavera Árabe e cujos custos contrastavam com os portugueses, em que férias, feriados, vencimentos e limite de horas de trabalho semanais são repercutidos na fatura final.
“Essa concorrência desleal desapareceu e Espanha e Portugal recuperaram em quatro ou cinco anos, sempre a subir a dois dígitos,” concretizou no evento no CCB, em Lisboa, que também comemora os 30 anos da EXAME. “O desafio,” sublinhou, “é saber se conseguimos manter não a ocupação mas o preço.”
No painel “A minha capa, 30 anos depois” (que recuperou uma das primeiras edições da EXAME a que, em 1989, Dionísio Pestana deu a cara sob o título “O vice-rei da Madeira”), o presidente do grupo hoteleiro recordou a aventura da compra do hotel Casino Park no Funchal, a ida da sua empresa para a bolsa – com “400 quilos de ações” enviadas num barco para Lisboa – e as apostas que se seguiram para construir a que é hoje a maior cadeia hoteleira nacional.
“Cada geração tem os seus momentos de glória, aceita os seus desafios e oportunidades,” recordou, apontando como fio condutor do caminho dos últimos 30 anos Dionísio Pestana mais o “rigor” e o “controlo” do que propriamente o otimismo.
O presidente do grupo Pestana mostrou-se ainda “revoltado” com o impacto criado no setor pela quebra de alguns grupos hoteleiros durante a crise económica e financeira, que passaram para as mãos dos fundos mas acabaram por penalizar os operadores saudáveis. “Um hotel que custou €80 milhões: quando os bancos foram tentar recuperar este ativo, aumentaram taxas de juro a quem? A hotéis como nós, que tínhamos bons rácios. Pagámos pelos nossos colegas. Destruíram o mercado e hoje estão todos nos fundos,” notou.
Sobre os “cinco ou seis anos” de atraso no novo aeroporto de Lisboa, agora previsto para o Montijo, estimou que esteja a gerar uma perda de 5% a 10% para o grupo, na capital, Madeira e Algarve. E deixou críticas ao tratamento feito ao alojamento local – “Não percebo bem o que é” -, sugerindo a aplicação aos hotéis dos mesmos requisitos exigidos a estes estabelecimentos em matéria de impostos, condições de alojamento, licenciamento, custos ou eficiência energética.