Há umas semanas tive a oportunidade de participar num evento no Instituto Superior Técnico dedicado à Engenheira Mecânica e empregabilidade, o MecanIST, que pela primeira vez tinha o foco nas Startups. Quando foi aberta a palavra à audiência a primeira pergunta que me foi dirigida foi a da “moda”, será que estamos a viver uma moda das Startups?
O aluno do IST que colocou a pergunta com certeza estaria a pensar se seria uma boa opção arriscar uma carreira com alguns dos jovens empresários que se apresentavam na feira. Não é o único. Tenho encontrado esta mesma dúvida junto dos empresários que constroem novos espaços para Startups, nos novos bussiness angels e capitais de risco que investem os seus fundos e até nos velhos do restelo que exercitam a sua já habitual retórica do pessimismo prudente e crónico. Já há muito que reconheço as muitas virtudes do nosso País, mas não sou cego aos seus defeitos e talvez dois dos maiores sejam a “miopia” e a falta de aptidão para o marketing. Passo a explicar.
A grande maioria tem em casa, na escola ou no escritório uma ligação de fibra ótica à internet e partimos do princípio que é o mesmo em todos os cantos do globo, mas não é. Segundo a OCDE somos o 8º País no ranking global de ligação por fibra ótica e isto é muito relevante para negócios escaláveis e digitais como os das Startups dos dias de hoje.
Todos reconhecemos que somos um pequeno País, só com 10 milhões de habitantes e que um dia fez fronteira com 13 países e tinha mais de 20 milhões, mas tendemos as esquecer que a nossa história e localização nos permite funcionar como uma plataforma entre a Europa e os PALOP com acesso a quase 750 milhões de consumidores.
É de conhecimento público o movimento de estrageiros empresários e reformados com destino a Portugal, comunidades que crescem a olhos vistos, e embora alguns o façam pela boa comida e pelo bom tempo, não é segredo para ninguém que outros tantos o fazem pelas vantagens fiscais de residir no nosso país, pelo acesso a mão de obra da geração mais bem qualificada de sempre, com quase 95 mil finalistas com formação obrigatória no ensino em inglês.
Ainda recentemente a Forbes, numa lista de mais de 188 países, reconheceu Portugal como o país no mundo mais amigável para expatriados. Um facto nada estranho para qualquer português sempre disposto a conhecer ou ajudar, desinteressadamente, mais um estrangeiro. Tudo isto são coisas que sabemos e que, devido à falta de distanciamento, não vemos ou não valorizamos, tal como uma miopia.
Isto leva-me ao tema do marketing. Efetivamente durante muitos anos não tivemos grande sucesso com a promoção do nosso País, o qual era visto lá fora como periférico e parado no tempo. Mas, nos últimos anos, o investimento na promoção turística tem vindo a alterar esse panorama. E, recentemente, recebemos uma ajuda de um dos maiores eventos de empreendedorismo do mundo, o WebSummit, o qual nos colocou no radar de muitas Startups mas também de grandes corporações como a Amazon e a Google. Mas este marketing só funcionou porque existe todo um conjunto de condições atrativas que permitem aos empreendedores identificar uma ideia e transformá-la num negócio.
Por esta razão partilhei com aquele aluno a minha opinião, “isto não é uma moda”, mas sim o conquistar do nosso devido lugar no palco global no que toca à atração de Startups estrageiras e de promoção das nossas lá fora.