João Galamba, ministro das Infraestruturas, antigo deputado, político experimentado, de inteligência reconhecida por amigos e inimigos – estes quase todos no seu próprio partido – e também por adversários políticos, tornou-se um caso de estudo. Na mira do Presidente da República que, desde os acontecimentos “de filme” ocorridos no seu ministério, com cenas de pugilato, roubos de computadores, intervenções policiais e atividade de “espiões”, exige a sua demissão, tem andado, desde então, debaixo da asa do primeiro-ministro. Apareceu desnecessariamente em Peso da Régua, para as comemorações do Dia de Portugal, e deve ir a Pedrogão, “ajudar” a inaugurar um memorial em memória das vítimas dos incêndios de 2017. O facto de incorporar, estoicamente, a missão de para-raios privado de António Costa, no que diz respeito a descontentamentos populares, é um preço a pagar pelo facto de o chefe do Governo ter dado o corpo às balas por ele, num investimento político e pessoal que comprou uma guerra com Belém e com parte da opinião pública. As sondagens, que estabilizam o PS acima dos 30%, sem mais ganhos para a oposição, dão, no entanto, razão à estratégia de Costa: se por vezes dá jeito ter um Eduardo Cabrita à mão, João Galamba é o novo Cabrita do Governo.
E ele faz por se manter debaixo dos holofotes, oferecendo-se em sacrifício para entreter jornalistas e oposição. É inverosímil que um político com a sua experiência cometa deslizes como o de se pronunciar sobre um dos locais específicos apontados como possíveis para o novo aeroporto de Lisboa, ainda por cima, desfavoravelmente, antes de a comissão técnica independente, destacada para estudar os vários locais, se ter pronunciado. “Santarém é muito longe”, diz Galamba, desta vez, juntando ao cabritismo das gaffes desastradas o “mário linismo” dos tempos de Sócrates: “ Em Santarém, ‘jamé’”.
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