Há um equívoco frequente em relação a Vladimir Putin: considerar que o senhor todo-poderoso do Kremlin atua, nos momentos de conflito e tensão, como se fosse um mestre de xadrez, capaz de dominar o tabuleiro e a antecipar as manobras do adversário. Esse equívoco tem sido responsável, em larga medida, pela forma confusa como o resto do mundo tem olhado para o evoluir da situação na Ucrânia, com vários líderes ocidentais a sentirem-se surpreendidos pelas jogadas do presidente russo, sempre preocupados em tentar adivinhar o que pode ele fazer a seguir. A verdade é que Putin não é um mestre de xadrez – mas sim um judoca (cinturão negro e até com livros escritos sobre esse desporto criado no Japão.) E, ao contrário do xadrez, em que as regras estão perfeitamente definidas e se joga no espaço exíguo de um tabuleiro, apenas aos nível mental, no judo o cenário e o modo de atuar são completamente diferentes: é um desporto de combate, em que os oponentes lutam fisicamente e sempre em movimentos contínuos de ataque e defesa, e em que a principal arte é a de tentar aproveitar a força do adversário a seu favor e, com isso, derrubá-lo no momento oportuno.
Não vale a pena, por isso, continuar a tentar jogar xadrez com Vladimir Putin, quando ele só está, na verdade, num combate de judo, à espera da melhor oportunidade. É isso que ele tem feito nos últimos meses. O modo como fez deslocar as mais de 140 mil tropas russas para junto da fronteira da Ucrânia é o equivalente à forma como os judocas, no início do combate, tentam agarrar a manga do adversário: a chamada “pega”. E Putin, com essa manobra, já “pegou” a Ucrânia: mesmo sem a invadir, ele limitou, ao máximo possível, a autonomia do país. Com os resultados que temos visto nos últimos dias: vários países a pedirem para os seus cidadãos saírem da Ucrânia, voos comerciais a deixarem de voar para Kiev. Ou seja: mesmo que nunca dê a ordem para uma invasão em massa da Ucrânia, Putin está a conseguir abafar aquela nação de 43 milhões de habitantes.
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