Vítor da Costa, um talento das ruas do Martim Moniz, tem as suas pinturas expostas no Espaço Cultura AXA no Parque das Nações, em Lisboa. O artista foi descoberto por um grupo de voluntárias, numa noite de ronda pelos sem-abrigo.
“Conhecemos o Sr. Vítor no dia 5 de março deste ano, no dia dos seus anos. Levava, debaixo do braço, uma pasta de desenhos… perguntámos-lhe o que levava ali e o seu olhar brilhou. ‘Ainda bem que perguntam’, respondeu ao mesmo tempo que abria a pasta. Foi uma viagem pela vida do Sr. Vítor que saiu daquela pasta…”, testemunham as voluntárias.
A exposição inclui vários trabalhos do artista, com uma técnica mista de lápis de cor, caneta de feltro, caneta e guache. Vindos diretos do seu “estúdio” ao ar livre, nas tasquinhas do Martim Moniz, os trabalhos retratam a vida e memórias de Vítor Costa desde os tempos de paraquedista, às idas a Alcântara onde observava as gaivotas a voar.
A vida antes da pintura
Vítor nasceu em Moçambique há 62 anos e veio para Portugal em 1976, com 23, após ter lutado na Guerra do Ultramar. “Vinha aliviado, mas com trauma na cabeça”, confessa. Onde ia, não conseguia escapar às memórias da guerra. Os próprios foguetes dos Santos Populares lembravam-lhe os sons de guerra no seu tempo de combate.
Em Portugal, viveu em Lisboa e no Porto, onde jogou futebol na posição de guarda-redes. Nunca recebeu pelos jogos, mas tinha o conforto de ter dormida e refeições. “Conheci a zona do Porto à conta do futebol”.
Entre empregos, como segurança no Pão de Açúcar em Alcântara e repositor de lojas no Minipreço, Vítor conheceu a sua companheira, com quem teve dois filhos. A sua filha Tamara, hoje com 25 anos, tem uma filha, Lara, fazendo de Vítor avô. O filho já faleceu.
O seu último trabalho foi em Espanha, como servente, mas em 2007 voltou a Lisboa.
Foi numa festa dos sem-abrigo na cidade universitária que um amigo lhe sugeriu a pintura. Desde então, começou a pintar e a utilizar o Martim Moniz como o seu estúdio. Segundo Vítor, “tem espaço, mesas abrigadas para trabalhar – são as tasquinhas do Martim Moniz – e luz”.
Quando pinta, gosta de ouvir música no seu MP3, que está sintonizado na RDP África. A música é que lhe traz a inspiração para os seus trabalhos.
Atualmente, vive numa casa social com a parceira e a enteada no Bairro das Lavadeiras. Com tendência para ajudar toda a gente – “lá no bairro toda a gente me conhece” – gosta de fazer o bem.
O valor angariado com a venda dos quadros da exposição “Pintura ao Ar Livre” reverterá na totalidade para Vítor da Costa, para melhorar as suas condições de vida.
A exposição estará aberta ao público até 14 de janeiro de 2016.