É logo nas suas primeiras páginas que se lê: oferecer alimentos que não são culturalmente aceites ou permitidos por motivos religiosos pode comprometer o estado nutricional dos refugiados. Deve-se ainda garantir que a comida fornecida é familiar e tem boa digestibilidade e sabor. E, na dúvida, peça-se ajuda a mediadores culturais.
Como não basta os profissionais de saúde verificarem o estado nutricional das pessoas, grande parte do manual “Acolhimento de refugiados: alimentação e necessidades nutricionais em situações de emergência”, lançado pela Direção-Geral da Saúde e o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, é dedicada aos hábitos à mesa.
Para quem receber os refugiados, seja a nível institucional ou particular, o manual, de consulta online (aqui), vai além do óbvio. Lembra, por exemplo, que, no caso de se acolherem muçulmanos, não se deve usar bebidas alcoólicas para temperar, em caldos, marinados e sobremesas. “Determinados ingredientes, como o extrato de baunilha, também podem ser proibidos por utilizarem álcool na sua composição ou no processo de produção.”
“Os muçulmanos”, exemplifica-se ainda, “regem-se por um conjunto de regras implícitas ou explícitas no Corão e noutros textos religiosos, que define os alimentos proibidos (haram) e permitidos (halal).” A restrição mais comum é a da carne de porco e derivados, recorda-se a propósito, sendo de evitar inclusive a gelatina produzida a partir de proteína animal. Segundo determinadas correntes do Islão, também poderá haver reservas sobre a forma como o animal é abatido.
Tendo em conta os produtos existentes em Portugal, o manual traz uma tabela de alimentos da predileção dos refugiados que podem ou não ser facilmente encontrados por cá. Raro, mas para eles apetecível, são as folhas de videira, o bulgur, o óleo de sésamo, alguns tipos de queijo (Chancliche, Shelal…) e a pimenta de Aleppo (pimenta halaby).
A nossa Dieta Mediterrânica tem bastante pontos em comum com a cultura dos países do Mediterrâneo de Leste, como o azeite, os hortícolas e as leguminosas. Convém, no entanto, ter presente que, por exemplo, no interior da Síria o consumo de peixe, marisco e moluscos é raro, ou que a batata e as massas não têm um consumo muito expressivo no país. Mais do que feijão e ervilha, tão usados em Portugal, preferem o grão-de-bico e as lentilhas. E mais do que os grelos de nabo, pelam-se por beringela.