Conheci uma idosa, penso que nos seus setenta e muitos. Voluntária já de longa data num centro social, é responsável por preparar os lanches diários para outras pessoas, também da mesma ‘juventude’. Podem pensar que se queixava da tarefa ou que a levava a cabo ‘porque sim’, mas ela mostrou-me o que fazia com orgulho e dedicação, afirmando que lhe fazia bem. Estava felicíssima por me ter mostrado o que fazia e mais feliz ainda por fazê-lo.
O voluntariado pode ser um meio de inclusão positivo de pessoas e públicos que normalmente estão mais excluídos de participar na sociedade de forma ativa. Há vários relatórios e estudos internacionais que o indicam e, dependendo das regiões do globo, esta inclusão pode ser mais sentida do que noutras. Mas, de facto, ela existe em todo o lado. O voluntariado é ainda muito assistencialista, servindo para colmatar insuficiências da sociedade, estando ligado sobretudo ao apoio caritativo. Mas o voluntariado da solidariedade social pode ser muito mais do que isso, até porque um melhor entendimento do que é a solidariedade faz-nos perceber que é necessário haver paridade e igualdade no tratamento das pessoas, para que possa haver solidariedade. Ou seja, tratar as pessoas da mesma forma que queremos ser tratados e tratadas, reconhecendo que há muito mais em nós do que as necessidades imediatas e que suprimir estas é, muitas vezes, deixar-nos apenas num ciclo onde somos reféns e não participantes dos nossos destinos. Assim, um ponto importante de solidariedade que deve ser encontrado no voluntariado é a inclusão.
Quando o voluntariado atua sem pretensões de discriminação e, muito pelo contrário, procura a inclusão das pessoas, então esta atividade com base na livre escolha, torna-se um meio de convivência entre pessoas que partilham valores, objetivos e atividades em comum. Aqui, a mulher e o homem cooperam como iguais que são, os mais velhos e os mais novos trabalham juntos, os mais abastados e os menos afortunados agem em conjunto para resolver um problema em comum, e as nacionalidades têm pouca importância a não ser o que cada cultura pode dar positivamente. Aqui não há uns e os outros, há sim pessoas que, em conjunto, partilham algo e podem sentir que estão a contribuir para a sociedade.
Na realidade o voluntariado tem este resultado: o de sentirmos que estamos a contribuir com algo para a comunidade dando um sentido diferente à nossa vida. Faz-nos sentir que temos alguma importância, que temos maior controlo da nossa vida. Aqui, decidimos como queremos contribuir, e isso nada tem a ver com a nossa condição socioeconómica e com o conceito de classes sociais. Na verdade o voluntariado não tem classes sociais, não tem diferenças entre nacionais e imigrantes, homens ou mulheres, velhos ou novos. Todas as pessoas podem contribuir de forma ativa, útil e genuína. Além disso, é uma excelente forma de aprendizagem e combate de preconceitos, sendo que estes são apenas ideias pré-concebidas que se instituem dada a falta de conhecimento de uma determinada realidade. O voluntariado permite, em muitos casos, um contacto com essa mesma realidade, mudando a nossa perspetiva, anulando preconceitos, podendo mesmo ser um redutor de conflitos dado que muitas discórdias nascem da ignorância de todas as partes.
Cada vez mais há pessoas a envolveram-se em voluntariado ou a despertar para esta essa vontade. As motivações são várias e a escolha é de cada um e de mais ninguém. Isso não retira a obrigação dos compromissos assumidos e do profissionalismo que devemos ter, mesmo no voluntariado, pois sem isso não há nem voluntariado nem todos os resultados positivos que daí deveriam resultar. É necessário uma grande responsabilidade porque o compromisso é o da palavra, mais do que qualquer contrato ou obrigação que possamos estabelecer formalmente.
Assim, se é reformado/a pode participar em voluntariado. Não fique em casa, mulher ou homem, há lugar para si. Se é imigrante, participe. Se é mais ou menos afortunado, não faz mal, também há lugar para si. Se tem alguma limitação física ou é o maior dos atletas, tudo bem, pois podem participar como pessoas iguais que são. É a inclusão do voluntariado na sua forma mais simples e sincera.