Em quatro treinos de preparação para o grande dia, não houve um único sábado em que não chovesse torrencialmente, ainda que por breves minutos. Ao longo do último mês, a organização da primeira corrida solidária da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) parecia ter escolhido a dedo os dias dos treinos. Mas nem o mau tempo assustou os desportistas que, semana após semana, se reuniram junto do rio Tejo, em Belém, para se prepararem para os dez quilómetros da corrida (ou para os cinco de caminhada), com tiro de partida marcado para o próximo domingo, 30, em Cascais.
Só no último sábado, 22, mais de 40 pessoas juntaram-se para treinar consoante o seu nível, amador ou profissional. Para muitos, este é mais um dos inúmeros eventos em que participam. O desporto faz parte da vida de cada vez mais portugueses, que acorrem em massa a estas corridas, quase sempre pagas. Quando associadas a causas sociais, a procura é ainda maior, já que conseguem captar os desportistas ocasionais que aproveitam a oportunidade para juntar dois benefícios: manter a forma e ajudar os outros. Não é por isso de estranhar que continuem a surgir novos eventos solidários, onde se procura aproveitar a enorme adesão dos portugueses às corridas e transferir parte das receitas para fins sociais.
No caso da corrida da CPLP, a organização quis aproveitar a campanha Juntos Contra a Fome para angariar novos recursos para os 16 projetos selecionados, e que visam dar ferramentas para o combate a este problema.
Entre os finalistas, sete irão desenvolver-se na Guiné-Bissau, quatro em Moçambique, três em Cabo Verde e dois em São Tomé.
Cada projeto pode receber até 35 mil euros e, a par dos fundos provenientes da corrida, vai ser criada uma plataforma eletrónica onde as empresas podem escolher a ideia que querem financiar, na totalidade ou numa determinada fase. “Pedimos aos candidatos para dividirem os seus projetos por etapas.
Desta forma, as empresas podem escolher como querem ajudar, seja por estarem no país onde trabalham, porque se enquadra na sua política de responsabilidade social, seja porque sentiram maior afinidade com determinado projeto”, explica Manuel Lapão, coordenador de Cooperação da CPLP.
Entre os dias 28 e 30 de novembro, a organização quis também aproveitar a mobilização esperada para a Baía de Cascais para realizar um conjunto de workshops e ateliês, as Oficinas do Mundo, nas quais, além de iniciativas para as crianças, se procura dar algumas respostas aos problemas do desemprego e dos direitos laborais. Empresas como a RAY, Associação Portuguesa das Mulheres Juristas ou o Alto Comissariado para as Migrações estarão presentes para abordar estes temas e, no final de sexta-feira, 28, será organizado um encontro informal para troca de contactos profissionais.
Redes sociais dão uma ajuda
Enquanto não chega o dia, várias pessoas dirigem-se à tenda montada para o dia de treinos, para se inscreverem. Todos os participantes se encontram também muito ativos nas redes sociais, onde os calendários de novas corridas estão permanentemente a ser atualizados e a organização de um novo evento não passa despercebido.
No facebook, existem inúmeras páginas, com milhares de subscritores. Amigo puxa amigo… Há quem não falhe uma corrida. Existem famílias que levam as crianças, desde cedo, a ganhar o gosto de dar uso às sapatilhas. Mas há quem deixe o marido para trás, porque corre pouco… Sendo uma estreia, e numa conjuntura adversa para a comunidade, a organização mostra-se muito otimista. A uma semana da corrida, já conta com perto de 3 mil inscrições, um número que concorre com as outras já tradicionais, como a da HELPO, também ela organizada em Cascais, a fim de angariar fundos para a erradicação da pobreza. As mais antigas e com estruturas com maior capacidade e experiência em grandes eventos, como a da EDP ou a do Montepio, conseguem mobilizar perto de 10 mil desportistas. Mesmo com tantos eventos ao longo do ano, os portugueses parecem não se cansar de correr. Sobretudo se for por uma boa causa.