O voluntariado em Portugal tem estado intrinsecamente ligado à caridade cristã e ao apoio social, sobretudo aos indivíduos e famílias pobres. Este tipo de intervenção e ligação é ainda hoje muito marcante na nossa sociedade e na própria ideia ou preconceito que se tem do voluntariado. Porém, e olhando o contexto de hoje, ou seja, a diferenciação que a nossa sociedade começou a ter, sobretudo após a ditadura, os níveis de educação e culturais mais sólidos, o associativismo, a “internacionalização” do voluntariado e novos desafios sociais, começamos a assistir a um novo “modelo” que desenhará certamente o voluntariado do futuro próximo.
Os voluntários e voluntárias de hoje não são os mesmos de há alguns anos. Hoje, cada vez mais jovens, querendo intervir civicamente, procuram oportunidades de voluntariado mais sofisticadas, mais completas. Mesmo que as tarefas possam ser as “mesmas de sempre”, procuram outro significado e cidadania. Este “novo voluntário e voluntária” que hoje transporta em si mais competências, formação e dinamismo, pode acrescentar recursos importantíssimos às associações sem fins-lucrativos e apresentar novas possibilidades.
O problema é que muitas das associações estão ainda fundadas no voluntariado “tradicional”. As direções e os próprios técnicos destas organizações não estão preparadas para estas pessoas que querem um voluntariado com mais sentido e desenvolvimento. Estas organizações têm necessariamente de fazer esforços para alterarem as suas políticas ao nível do voluntariado e de como o encaram, perceber as novas potencialidades que advêm dos voluntários e voluntárias pois são estas organizações muitas vezes elas próprias, uma barreira ao voluntariado. Terão que trabalhar de forma muito mais exigente na coordenação e gestão do voluntariado, na formação, orientação, avaliação e envolvimento dos voluntários e voluntárias. Terão de dedicar recursos para este fim. Caso contrário, estes novos voluntários e voluntárias, mais competentes e mais exigentes, evitarão voluntariar-se.
Felizmente, nascerá (como já está a nascer) um novo associativismo e projetos sociais que vão contribuir para uma mudança profunda na nossa sociedade. Não só porque vão apresentar novas soluções aos velhos problemas ou aos novos desafios, mas também porque começam a encarar a componente de desenvolvimento e de cidadania que acredito profundamente que o voluntariado tem. Podemos, enquanto voluntários e voluntárias, ajudar numa causa, numa situação ou uma pessoa. Mas o que tiramos daí, as reflexões que podem surgir são muito mais vastas do que o momento do voluntariado. Mas para isto, têm de haver essa consciência e trabalhar para que o voluntariado possa evoluir, pois esta experiência pessoal de quem se voluntaria, devidamente refletida e trabalhada, irá participar na educação social que pertence a todos nós.
O voluntariado futuro será muito mais diversificado nas causas, objetivos e fins. Este voluntariado incorporará novas vontades na procura do desenvolvimento individual e coletivo, no melhorar competências, para aprender, para ser ativo e fará parte do percurso normal de vida de cada cidadão e cidadã, independente de crenças ou deveres morais. Estará e cada vez mais, ligado à própria essência do conceito de voluntariado que é a “liberdade de escolha” e ligado a uma participação ativa na sociedade.
Este voluntariado terá também em crescente as componentes de inovação, do aumento de competências dos indivíduos e das organizações, à liberdade de experimentar novas soluções ultrapassando a mera ação “braçal” do voluntariado atual. Aqui entrará o voluntariado empresarial que tem ainda e também de interiorizar estas novas noções de desenvolvimento no seu voluntariado, de como apoiam as organizações e causas sem fins-lucrativos e qual a política que adotam para agir. Diria mesmo que parte do sucesso da economia social e solidária dependerá de como as empresas vão agir neste domínio.
Aos novos voluntários e às novas voluntárias, que já começaram este percurso de um novo voluntariado ou que o desejam, dou as boas vindas e espero contribuir para construir o caminho de desenvolvimento que o voluntariado terá em Portugal.