Sim, Sr. Ministro. Sim, Sr. Presidente. Sim, Srª doutora. E lá continuamos nós como meninos de coro a responder sim a tudo, ou melhor, a nem sequer responder porque não há tempo, tudo já é dado como adquirido. Num altura tão agitada em que só se fala da praxe académica – assunto muito conveniente, razão pela qual há que levar as investigações do caso do Meco até ao fim, até à exaustão – esquecemos por momentos a crise, a troika, os carros comprados, os submarinos, os cortes nas pensões, esquecemos que os idosos deixaram de comprar a medicação porque ou comem ou se tratam, até nos esquecemos que há fome em Portugal e que existem crianças em filas à espera de uma tigela de sopa. Sim, há instituições de apoio, mas até essas estão a ver as verbas cortadas.
Lamento o desaparecimento dos meus colegas, acho que todos nós o lamentamos, mas há vida. Há quem ainda viva. E desses, esqueceram-se?
Esqueceram-se, por exemplo, do Domingos, que continua a dormir num passeio, no jardim já sem tenda? Porquê? Por ser um sem abrigo? Não fiquem à espera que os grupos de voluntários fiquem sentados no (des)conforto das palavras vazias e tristes que muitas vezes ouvimos, não vamos esperar que morra como parece ser o que esperam (caso contrário dará muito trabalho e despesa ao Estado).
De quem mais se esqueceram ou fingem que o fazem? Ah…é verdade, esqueceram-se das bolsas que foram cortadas a muitos estudantes e que agora estão a emigrar e a levar o seu melhor para outros países. Grande investimento, senhor primeiro-ministro. Portugal está na falência e até os jovens com capacidades de mudarem o rumo estão a ser “expulsos” do nosso País. Bom, eu compreendo, não convém investir em alguém que nos possa afrontar, que por certo seria uma mais valia e que iria para o Parlamento em transportes públicos – como o senhor e todos os deputados deveriam fazer.
Esqueceram-se de quem? Estão à espera de quê? Que surja outra notícia e que por dias volte a concentrar as atenções dos portugueses? Sabem de quem também se esqueceram? De proceder à substituição dos assistentes sociais que foram despedidos, o que resulta no facto de haver sem abrigo sem tutores, sem alguém que lhes responda às dúvidas e aos pedidos de ajuda, alguém que lhes carimbe uma receita médica para terem direito à medicação. Mais uns condenados à morte ou ao naufrágio!
Dá tanto jeito passar ao lado das coisas e da realidade e não ser incomodado com estas e outras situações. ‘Mas eu deferi o processo.’Para quem? Para uma secretária vazia? De que mais esperam, que todos nós desistamos de viver e de lutar? Errado. Um voluntário nunca o fará, mesmo que não receba monetariamente nada por isso – porque acaba por receber muito mais dos que ficam esquecidos. Recebe mais do que alguém possa imaginar. Recebe abraços e frases como: ‘Ah, afinal não se esqueceram de mim. Estou vivo!’
Descendo a escadaria , virando à esquerda, olhem com atenção: Está lá alguém esquecido.