“Lisboa acaba de ser dotada com mais um melhoramento importante” – foi assim que, há quase 140 anos, a publicação Occidente (assim mesmo, com dois cc e que se apresentava como a Revista Illustrada de Portugal e do Extrangeiro) noticiou a entrada em funcionamento do “ascensor da calçada da Glória”, que tinha ocorrido no dia 31 de outubro de 1885.
“A maneira como o público recebeu esta inovação demonstra cabalmente a sua grande utilidade”, lia-se na mesma revista que sublinhava ser este “melhoramento” uma “continuação do estabelecido na calçada do Lavra”, no ano anterior. No entanto, desde o início, o elevador da Glória teve muito mais êxito do que o seu “irmão” mais velho, que nesses tempos não conseguia ter muitos passageiros, com prejuízo para os seus empreendedores.

“No lado ocidental da cidade, o movimento da população é muito maior e, portanto, a exploração dos ascensores muito mais produtiva”, lia-se na revista Occidente, que via neste equipamento um exemplo para se expandir pelo resto da cidade (a maior parte deles não concretizados): “Os resultados já obtidos no elevador da calçada da Glória animam sa exploração de novas vias, e é assim que se projetam e tratam de pôr em prática na calçada da Estrela ou travessa de Santo Amaro, na Bica de Duarte Bello, na rua das Flores, na rua da Imprensa Nacional, na calçada dos Paulistas e para o monte da Graça, cujos habitantes pedem este melhoramento num abaixo-assinado com mais de mil assinaturas”.
A introdução dos elevadores em Lisboa, no último quartel do século XIX, foi obra do engenheiro portuense, de origem francesa, Raul Mesnier de Ponsard que, em 1882, fundou a Nova Companhia dos Ascensores Mecânicos de Lisboa, pouco depois de ter dirigido, com base num projeto do engenheiro suíço Niklaus Riggenbach, a obra que o viria a tornar famoso: o elevador do Bom Jesus, em Braga.
Em Lisboa, começou por construir o elevador do Lavra, que ligava a calçada do Lavra ao Campo de Santana, que continua em serviço e que, tal como o do Bom Jesus e, mais tarde, o da Glória, funcionava pelo sistema de cremalheira e por contrapeso de água. O êxito popular do elevador da Glória fez com que Raul Mesnier de Ponsard tenha inaugurado, nos anos seguintes, uma série de obras estruturais para a cidade e a mobilidade dos seus habitantes: o ascensor da Bica, entre a Rua de S. Paulo e Largo do Calhariz, inaugurado em 1888; o da Praça de Camões ao Largo da Estrela (1890); o da rua do Crucifixo à rua Garrett (1892); o da Graça (1893); o do largo de S. Julião ao Largo da Biblioteca (1897); o de S. Sebastião da Pedreira (1899).
Em 1902, Ponsard inaugurou a sua obra mais icónica, o elevador de Santa Justa, que, no entanto, é muitas vezes atribuído a Eiffel…

Nos seus inícios, o elevador da Glória transportava passageiros tanto no interior como na cobertura. Foi movido através do contrapeso de água e, mais tarde, funcionou a vapor. A sua eletrificação ocorreu a partir de agosto de 1914, e manteve-se até hoje.
A companhia de Ponsard acabaria por ser absorvida pela Companhia Carris de Ferro de Lisboa, que progressivamente monopolizou as redes de transportes da capital. Por contrato de 12 de novembro de 1926, a Carris adquiriu os bens, valores, direitos e obrigações da Nova Companhia dos Ascensores Mecânicos, passando a operar definitivamente a rede de elevadores de Lisboa.
