Já lhe aconteceu falar sobre um determinado produto ou marca e passado pouco tempo surgirem, no seu telemóvel, anúncios de publicidade direcionados para a compra esses produtos? Muitas pessoas têm a sensação de que os telemóveis estão constantemente a ouvir as suas conversas, e não estão erradas.
Os microfones dos telemóveis estão sempre estão sempre ligados – caso as funcionalidades estejam ativas – para que os assistentes virtuais – como a Siri ou a Alexa – possam responder aos comandos lançados pelo consumidor. Contudo, estas ferramentas são muitas vezes utilizadas para mostrar ao utilizador anúncios com base nos tópicos que mais lhe interessam, sobretudo através das diversas aplicações – não relacionadas com os assistentes virtuais – às quais se permite o acesso total ao microfone, muitas vezes apenas ao aceitar os termos e condições.
Segundo um relatório, divulgado em 2023, pela empresa de cibersegurança NordVPN, as “escutas” aos telemóveis são realizadas através de “sinalizadores de áudio” que ligam “todos os dispositivos detidos [pelo utilizador] para registar o comportamento e localização”. Os resultados do relatório revelaram que mais de um terço das pessoas em todo o mundo (36%) afirmam ter recebido um anúncio para um determinado produto nos seus smartphones logo após terem falado sobre o mesmo. Já 58% das pessoas referiram não saber como evitar que isso aconteça.
Em setembro do ano passado, a gigante da comunicação Cox Media Group (CMG) – parceira de empresas como a Google -, admitiu ter recorrido a um software de inteligência artificial (IA) para aceder ao microfone dos telemóveis para fins comerciais. Num relatório interno, a empresa afirmou que o programa permitia aceder “a conversas em tempo real”, uma estratégia para definir alvos de publicidade com base nas conversas registadas e comportamentos dos utilizadores online – pesquisas realizadas, por exemplo, no Google. “Embora normalmente os consideremos inocentes e necessários, [os anúncios] são um forte indicador de que está a permitir que o seu dispositivo tenha demasiado acesso aos seus dados pessoais e interesses”, explicou Marijus Briedis, diretor de tecnologia da NordVPN.
Apesar de trabalhar com o Google, Facebook ou Amazon, estas empresas negaram sempre o acesso aos microfones para fins publicitários. “Todos os anunciantes devem cumprir todas as leis e regulamentos aplicáveis, bem como as nossas políticas do Google Ads, e quando identificarmos anúncios ou anunciantes que violem essas políticas, tomaremos as medidas apropriadas”, explicou um porta-voz da Google ao The New York Post. Já a Meta – que detêm o Facebook, WhatsApp e Instagram – garantiu, após a polémica, não utilizar os microfones para gerar publicidade direcionada.
Como posso saber se o meu telemóvel está a ser escutado?
De forma a ajudar os utilizadores a testar esta realidade, a NordVPN desenvolveu um teste, de quatro passos, e que envolve escolher um tema ou produto, falar abertamente sobre o mesmo na presença do telemóvel durante algum tempo, continuar a utilizar o telemóvel normalmente e, passado algumas semanas, verificar se os anúncios correspondem ao tópico escolhido.
É legal o meu telemóvel estar a ouvir as minhas conversas?
Ao aceitar os termos e condições de cada aplicação ao criar uma conta ou instalá-la no smartphone, os utilizadores estão a dar à aplicação consentimento para esta prática, mesmo que não tenham essa consciência. Por exemplo, ao consentir o uso de assistentes virtuais, o consumidor aceita que o Google Assistant, a Siri ou a Alexa se encontrem sempre ativos, apesar de as empresas por detrás destes recursos afirmarem que esta escuta é seletiva a frases que ativam a ferramenta.
Como limitar o acesso ao microfone
De forma a prevenir estas situações é possível, nas configurações do dispositivo, limitar o acesso que várias aplicações têm ao microfone do telemóvel. “Apesar de ser impossível impedir que estes sinalizadores funcionem, pode reduzir a probabilidade de ter o seu smartphone a ouvir-lo ao restringir permissões desnecessárias que concedeu às aplicações”, explicou Adrianus Warmenhoven, consultor de segurança da NordVPN, num relatório da empresa.
Outras opções incluem a utilização de um browser privado – por não guardarem dados pessoais para fins publicitários – ou a utilização de uma VPN – uma ferramenta que encripta todas as informações sobre a atividade na internet.