Um novo estudo, desenvolvido por investigadores do laboratório de fisiologia animal da Universidade de Tübingen, na Alemanha, descobriu que os corvos são capazes de contar até quatro, revelando mais uma excelente habilidade deste animal.
Em setembro do ano passado, uma equipa de cientistas concluiu, num estudo publicado na revista científica Current Biology, que estes pássaros são capazes de realizar inferências estatísticas, demonstrando ter capacidades de raciocínio complexo.
Fisiologicamente, os corvos têm cérebros grandes para o tamanho do seu corpo e uma parte cerebral posterior proeminente, características associadas à análise estatística e ao raciocínio lógico nos humanos. Além de conseguirem usar ferramentas, como pequenos galhos, já se sabia que os corvos conseguem realizar também contas matemáticas básicas, como somas ou subtrações.
Contudo, o que este estudo, publicado na última semana na revista científica Science, revelou é que estas aves podem aprender a associar números a valores e a contar em voz alta em conformidade, tal como os humanos.
De acordo com a equipa, a maneira como as aves reconhecem e reagem aos números é semelhante a um mecanismo que utilizamos para aprender a contar e para reconhecer rapidamente o número de objetos que estamos a ver.
Para a realização do estudo, a equipa baseou-se precisamente na forma de contar das crianças, que utilizam as palavras referentes aos números para contarem quantos objetos estão à sua frente, explica, citada pela CNN, Diana Liao, neurobióloga e autora principal do estudo.
Além disso, a equipa teve em conta um estudo de junho de 2005 sobre o chapim-real, que adapta o seu som de alarme ao tamanho do predador, ou seja, quanto maior é o predador, menos repetições de sons este animal faz. Nesse estudo, a equipa não foi capaz de perceber se os pássaros tinham controlo sobre o número de sons que faziam ou se esta era, pelo contrário, uma resposta involuntária.
Para este estudo recente, a equipa treinou três corvos ao longo de mais mais de 160 sessões, durante as quais os animais tinham de aprender associações entre uma série de sinais visuais (podia ser, por exemplo, um número azul brilhante) e auditivos (um som de um tambor, por exemplo) de 1 a 4 e produzir o número correspondente de grasnidos.
Os investigadores esperaram que os corvos realizassem o mesmo número de grasnidos que o número representado pelos sinais até 10 segundos após verem e ouvirem-nos e, se fizessem a contagem corretamente, recebiam uma recompensa.
A equipa percebeu que estes animais planeavam com antecedência o número de grasnidos que fariam antes de abrirem o bico, detetando diferenças acústicas subtis que indicavam que os corvos sabiam quantos números estavam a ver e que tinham conseguido reter toda a informação.
“Os seres humanos não têm o monopólio de competências como o pensamento numérico, a abstração, o fabrico de ferramentas e o planeamento antecipado”, diz, em entrevista à CNN, Heather Williams, especialista em cognição animal e professora de biologia no Williams College, em Massachusetts, EUA, que não esteve envolvida no estudo, acrescentando que “ninguém deve ficar surpreendido com o facto de os corvos serem inteligentes”.