Dados publicados pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) revelaram que dois em cada 10 alunos frequentaram, no ano letivo de 2021/2022, escolas privadas, e esse número deve vir a aumentar nos próximos anos, ao mesmo tempo que os estabelecimentos de ensino privados acumulam grandes listas de espera.
Em entrevista ao Diário de Notícias (DN), Rodrigo Queiroz e Melo, diretor-executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP), diz que “a falta de vagas” nos colégios privados da Grande Lisboa e do Grande Porto “deverá manter-se”, acrescentando que, apesar de haver “novas ofertas”, com a abertura de novos estabelecimentos, não se espera “uma diminuição da procura”. “A pressão deverá ser a mesma”, refere.
“A zona do interior, fora do Porto e de Braga, começa a ter cada vez mais projetos, tal como na zona de Lisboa e na Margem Sul. Houve um aumento de vagas, mas, ainda assim, a maioria das escolas tem lista de espera”, refere Queiroz e Melo, acrescentando, contudo, que apesar de ser difícil inscrever os filhos nos colégios privados, há locais em que “as pré-inscrições estão abertas o ano inteiro”.
Há pais que estão, inclusive, a pré-inscrever os filhos, já para o ano letivo de 2025/2026, em mais do que uma instituição de ensino, para que as chances de colocação aumentem.
Estrangeiros procuram cada vez mais colégios privados portugueses
Nos últimos anos, especialmente a partir da pandemia de Covid-19, os pais têm procurado cada vez mais opções privadas para o ensino dos filhos, e Queiroz e Melo acredita que essa procura aumente ainda mais no próximo ano. A “instabilidade no ensino público, especialmente devido à falta de professores”, é um dos fatores que mais pesa nesta decisão, assim como as más condições das escolas a falta de assistentes operacionais nos espaços exteriores, que leva a sentimentos de receio e insegurança.
“O público não é opção por causa da instabilidade do corpo docente, os professores contratados mudam de escola todos os anos e há muitos miúdos sem professor a uma ou mais disciplinas. E isso é assustador, principalmente para os alunos que vão fazer exame. Pelo menos essa parte as escolas privadas garantem”, diz, em entrevista ao DN, Joana Marques, mãe de três crianças.
“A insegurança que há nas escolas também pesa muito na minha escolha. As escolas são lugares pouco seguros, algo que vejo, na prática, na minha experiência profissional. Há poucos funcionários nos recreios para vigiar as crianças”, refere ainda.
E apesar de as mensalidades destes estabelecimentos de ensino privado estarem a aumentar, “uma vez que inflação está muito maior”, a procura não tem diminuído, garante Queiroz e Melo. O que mudou, diz, foi o perfil das famílias que procuram o ensino privado. “Há mais famílias a fazer um esforço para ter os filhos no privado e, em muitos casos, com a ajuda dos avós. Começou na pandemia”, afirma.
“Fizemos um acerto na mensalidade e tivemos quase 100% de renovações. Não há quase saídas”, comenta, por seu lado, Marco Carvalho, diretor do Colégio Júlio Dinis, no Porto, um dos maiores colégios privados da zona Norte. “As pessoas podem não ter mais recursos disponíveis, mas fazem um esforço para investir na educação dos filhos. As famílias estão mais disponíveis para fazer esse esforço”, acredita.
Devido à também elevada procura de estrangeiros pelo nosso ensino privado, Marco Carvalho criou uma escola internacional, onde também já não existem vagas. Já na Grande Lisboa, a oferta de escolas internacionais cresceu 93% nos últimos cinco anos. “Temos cada vez mais estrangeiros com capacidade financeira que procuram os nossos colégios. É um fenómeno que já é bastante significativo”, afirma Queiroz e Melo.