Entre tascas, bordéis, casas de fado, alfarrabistas e tipografias, nasciam jornais como cogumelos no Bairro Alto. Tanto se multiplicaram, desde os inícios do século XIX, que se chegava a espreitar a concorrência pela janela, assim como se enviaram edições inteiras, de um lado para o outro da rua, dentro de cápsulas “disparadas” através de um tubo pneumático. O método agora usado por farmácias para disponibilizar medicamentos serviu em tempos para transportar textos entre redações vizinhas, a remetente, sem as necessárias oficinas para os paginar e imprimir. No auge, em 1921, havia 65 órgãos de Imprensa publicados a partir do eixo Bairro Alto-Chiado. No total, desde 1850, aquelas vielas estreitas e íngremes foram morada de cerca de 600.
“O Mundo”
Jornal político, lançado em 1890 por António França Borges, deputado do Partido Republicano, funcionou como feroz oposição à monarquia. Em meados da primeira década do século XX, vendia quase 50 mil exemplares, altura em que se mudou para o número 95 da atual Rua da Misericórdia. Desapareceu de cena em 1927, para quatro anos depois o edifício ser ocupado pelo Diário da Manhã, o órgão oficial do Estado Novo. Hoje, é a Associação 25 de Abril que está por ali
Com a mudança para São Domingos de Benfica do desportivo A Bola, na semana passada, perdeu-se o último bastião de um certo modo de vida, que marcou o afamado bairro lisboeta ao longo de mais de 200 anos. Instalada desde 1950 no antigo Palácio Rebelo Palhares, na Travessa da Queimada, A Bola nascera cinco anos antes, tendo entre o trio de fundadores Cândido de Oliveira, antigo futebolista do Benfica e da Seleção Nacional, então regressado do Tarrafal, onde cumpriu pena por espionar a favor dos serviços secretos britânicos e contra a Alemanha nazi, durante a II Guerra Mundial.
“Diário Popular”
Foi um dos vespertinos que habitaram a Rua Luz Soriano (1944-1991). Nos anos 70, exibia, com orgulho, a seguinte legenda no topo da primeira página: “O jornal de maior expansão no mundo português”. No Palácio Almeida Araújo, que ocupava, existe hoje o Hub Criativo do Bairro Alto, da empresa Interpress. O jornal digital Observador chegou a passar por lá