Os anos passam, mas estes casos continuam a ser um verdadeiro mistério e fonte de angústia para família e amigos. “Sem Rasto”, de Luís Francisco e José Bento Amaro, é um livro que reúne alguns dos desaparecimentos mais misteriosos e mediáticos de Portugal. É o caso de Rui Pedro, José António Ribeiro da Cruz, Zé do Pipo, Sofia de Oliveira, Madeleine McCann, entre outros.
Os autores afirmam que este “é um universo complexo, de difícil caracterização e em constante mutação” em que “cada história é diferente”. A obra não tem o intuito de fazer uma análise jurídico-legal de cada um destes casos, mas sim olhar para as peças do puzzle dos mistérios, na missão de não fazer cair no esquecimento quem um dia desapareceu e na homenagem de quem ficou à espera e não consegue colocar um ponto final à tragédia que continua a viver.
Sem Rasto, (Oficina do Livro), de Luís Franco e José Bento Amaro, está à venda desde o dia 24 de outubro.
Aqui ficam cinco dos casos mencionados no livro “Sem Rasto” de pessoas desaparecidas em Portugal e que nunca foram encontradas:
Rui Pedro
Tinha 11 anos e desapareceu da vila de Lousada no dia 4 de março de 1998. Por volta das 14h, saiu de casa de bicicleta para, contra a vontade da mãe, se encontrar com o amigo Afonso Dias, que tinha 22 anos. Às 17h os pais são alertados para o facto de o menino não ter ido à escola. Colocou-se a hipótese de fuga voluntária, mas mais tarde chegou-se a Afonso Dias, que confirmou ter levado Rui Pedro no seu automóvel para um encontro com uma prostituta. Esta mulher confirma o encontro com o menino, afirma que este se encontrava assustado e choroso, e garante que ele voltou a entrar no carro com Afonso Dias. Contudo apenas confirmou a identidade deste homem em tribunal em 2011, 13 anos após o desaparecimento. Afonso Dias entregou-se na cadeia em 2015, foi condenado a três anos de prisão, mas saiu em liberdade ao fim de dois.
A investigação da família de Rui Pedro foi dar à Suíça, país onde estaria a operar uma rede de pedofilia à qual teriam sido apreendidos fotos e vídeos. O menino da Lousada teria sido identificado nestas imagens. Em 2018, o Estado português passou a considerar Rui Pedro uma pessoa que tinha efetivamente morrido.
José António Ribeiro da Cruz
Era enfermeiro e trabalhava no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja. José António Ribeiro da Cruz tinha 66 anos quando foi avistado pela última vez, a 31 de agosto de 2020. Foi visto pela última vez num supermercado local.
Sabe-se que em 2015 sofreu uma grande perda com a morte da neta e que vivia amargurado desde então. A hipótese de suicídio foi levantada, mas não trouxe respostas uma vez que nunca se encontrou um corpo.
Francisca Raposo, a sua mulher, acredita que José da Cruz continua vivo e que terá desaparecido de forma voluntária, mas a Polícia Judiciária nota que, se tal se confirmar, levou nem roupas, nem medicamentos ou qualquer documento de identificação.
Considerado pacato e tranquilo por todos os que o conhecem, José da Cruz continua a ser um caso pendente nos arquivos da Polícia Judiciária de Faro.
Zé do Pipo
Nuno Batista, conhecido pelo nome artístico Zé do Pipo, tinha 40 anos quando foi visto pela última vez, no dia 5 de novembro de 2018, em Óbidos. Saiu de casa de família dizendo que ia passar num banco e numa farmácia. Horas depois, a mulher, Celeste Roberto, estranhou a demora e tentou ligar-lhe, mas o telemóvel encontrava-se desligado.
O cantor foi procurado na região e nos concelhos vizinhos, com o seu carro a ser encontrado junto à praia do Portinho da Areia Azul, em Peniche. Estava trancado e tinha a carteira, o telemóvel, o casaco e as chaves de Nuno Batista no interior.
Suicídio, homicidio, rapto e sequestro foram hipóteses colocadas em cima da mesa, mas os poucos indícios não ajudaram investigação e as respostas nunca surgiram.
Sofia de Oliveira
Os conflitos entre os pais de Sofia de Oliveira culminaram com o desaparecimento da menina. Luís Encarnação e Irene Andrade foram morar juntos nos arredores de Câmara dos Lobos, na Madeira, pouco depois de terem começado um relacionamento. Pouco tempo após o nascimento da menina, Luís recebeu uma proposta de trabalho e a família mudou-se para a Horta, nos Açores, para uma casa precária e que nem uma cama tinha. Os problemas entre o casal começaram a subir de tom e em fevereiro de 2005 Irene fugiu com a menina para a Madeira. No dia 22 de setembro, Luís foi atrás da mãe da sua filha, tirou-lhe a menina de dois anos dos braços e desapareceu com ela. Duas horas depois apresentou-se à PSP e disse que a menina não estava desaparecida, como a mãe alegava, e que sabia qual era o seu paradeiro, mas sem o revelar.
Luís esteve preso durante cinco anos e sete meses, apesar da condenação de nove anos pelos crimes de coacção de forma tentada, sequestro e subtração de menor. Nunca revelou o destino que deu a Sofia, variando o seu discurso. Garantiu que a filha estava fora da União Europeia, que a tinha entregado a um familiar, que a tinha dado a turistas, que tinha pago a alguém para a criar. Até hoje mantém para si a verdade sobre o que aconteceu à menina.
Madeleine McCann
Foi a 3 de maio de 2007 que Madeleine McCann desapareceu do empreendimento turístico, da Praia da Luz, em Lagos, onde dormia com os irmãos gémeos. A menina estava perto de fazer 4 anos e foi o centro de uma investigação como nunca se viu em Portugal. Surgiram inúmeros relatos de supostos avistamentos de Madeleine McCann, mas todos sem fundamento que levassem à descoberta do que aconteceu com esta criança. As poucas pistas que foram surgindo não deram resultados e apenas adensaram o mistério.
O caso tornou-se mediático no nosso país e além fronteiras e fez gerar muita especulação, com os pais de Maddie a ficarem no centro de um enredo dramático ora pela dor ora pela desconfiança. A certo ponto, Gerry e Kate McCann foram mesmo constituídos arguidos, o que gerou uma forte crítica da imprensa britânica às autoridades portuguesas.