O relógio marcava 18h10 do dia 14 de fevereiro de 2022, quando elementos da Polícia Judiciária (PJ) avançaram para travar a marcha de três carrinhas que, minutos antes, tinham saído do aeroporto de Lisboa em direção a um armazém em Odivelas, carregadas com sete toneladas de papaia, que, naquela mesma manhã, chegaram ao país num voo da TAP, vindo de Recife, no Brasil. A fiscalização da polícia portuguesa encontraria cocaína em sete das dez paletes transportadas, num total de 354 quilos daquele estupefaciente, avaliado em 17 milhões de euros – mas que poderia valer até dez vezes mais, depois de misturado com outros produtos. Cinco homens (três portugueses, um angolano e um indiano), com idades entre os 28 e os 42 anos, seriam detidos até ao final daquele dia.
O primeiro de três capítulos da Operação Exotic Fruit (Fruta Exótica, em português) – que, durante o ano que passara, tinha ocupado grande parte do dia de trabalho de um grupo de agentes da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da PJ (UNCTE) – deitava por terra a ilusão de segurança e conforto com que viviam os membros da organização criminosa liderada por Rúben Oliveira (com a alcunha de Xuxas), considerado o maior narcotraficante português da atualidade, depois de se ter aliado ao brasileiro Sérgio Roberto de Carvalho, conhecido como “major” Carvalho. Pouco mais de oito meses, até final de outubro, foi o que bastou para que a PJ trouxesse para o terreno os restantes capítulos da operação, colocando um ponto final na atividade de um grupo que se dedicava a importar elevadas quantidades de cocaína da América do Sul.
Apanhado pela “limpeza”, Rúben Oliveira seria detido a 24 de junho de 2022 – apenas três dias depois de o próprio “major” Carvalho também ter sido capturado pela Interpol, em Budapeste (Hungria) –, após a PJ ter recebido a dica de que o narcotraficante português regressara a Portugal e se iria deslocar, naquele dia, ao bairro dos Olivais, em Lisboa, onde nasceu e cresceu, para visitar familiares e amigos, antes de voltar a fugir do País. Nas ruas onde tudo começou, Rúben Oliveira seria travado, deitado no chão de cimento, com o rosto colado ao chão, e finalmente algemado com as mãos atrás das costas, num momento que seria filmado, por uma testemunha, a partir de uma varanda de um prédio vizinho, e que se tornaria viral nas redes sociais. Na altura da detenção, o suspeito tinha consigo um cordão de ouro no valor de €54 mil, uma pulseira de ouro de €16 mil, um relógio Rolex de €30 mil e uma mala Louis Vuitton de €2 100, na qual guardava €6 700 em dinheiro vivo, além de uma mala com roupas de marcas de luxo.
Rúben Oliveira permanece detido na cadeia de alta segurança de Monsanto, e o Ministério Público (MP) acusa-o, e a mais 17 cúmplices (entre os quais um irmão, o cunhado e um primo), de tráfico agravado, branqueamento de capitais e associação criminosa. A VISÃO conta como aconteceu a ascensão e queda do “Cartel dos Olivais”.
O grupo da Rua de Manhiça
Rúben Oliveira tem uma ligação umbilical ao seu bairro. Foi nos Olivais que começou a dedicar-se à pequena criminalidade, mantendo-se sempre à superfície (ou seja, fora do radar da polícia). Segundo a acusação do MP, tudo mudou em “meados do ano de 2019”, quando este homem resolveu fundar uma organização criminosa com o objetivo de importar elevadas quantidades de cocaína da América do Sul. Para concretizar o plano, terá contado com a cumplicidade de Dércio Oliveira (o irmão mais novo), Ricardo Macedo (o cunhado) e o amigo José Afonso, conhecido como Xulinhas, e já na época com cadastro por tráfico de droga. Em poucos meses, Xuxas ganharia estatuto neste submundo. E, na viragem do ano, seria contactado e apresentado ao “major” Carvalho, com quem chegou a acordo para liderar o braço português da rede de tráfico internacional de droga do narcotraficante brasileiro (ver caixa).
A dimensão deste novo desafio obrigou-o a recrutar outros elementos. E foi precisamente a partir da discreta pastelaria, situada na Rua de Manhiça, da qual Rúben Oliveira era sócio-gerente, que a organização cresceu. Próximo deste estabelecimento localizava-se a mercearia de Gurvinder Singh. Em meados de 2020, Xuxas propôs a Singh o que descreveu como “um negócio irrecusável”, que “faria todos ficarem ricos”. Bastava que o comerciante português, com raízes indianas, passasse a importar fruta do Brasil através da sua empresa (a Happy Selection, Lda.). A mercadoria serviria para dissimular a cocaína, permitindo assim fintar mais facilmente o controlo das forças policiais. Gurvinder aceitou a proposta.
Fabricado o pretexto para importar fruta (ou melhor, a droga), faltava apenas garantir que a carga não encalhava no crivo das autoridades. Para isso, Rúben Oliveira terá contado com a ajuda de outro familiar, o primo, Punil Narotamo, que, nos últimos seis anos, tinha trabalhado na Portway, empresa de handling do aeroporto de Lisboa, e que mantinha o controlo de elementos capazes de retirar a carga ilícita dos aviões. Com o irmão Dércio, José Cabral e Vasco Soeiro, foi formado o núcleo do aeroporto.
O grupo de Xuxas introduzia cocaína em Portugal, dissimulada nas bananas da Colômbia que, semanalmente, chegam a Setúbal
Seguindo o mesmo guião, Paulo Joaquim, estivador no porto de Setúbal, terá sido recrutado para descarregar e transportar a cocaína que chegava àquele local. Luís Gonçalves (que o MP liga a Hélder Bianchi, do gangue de Valbom, preso desde novembro de 2021) tinha as mesmas funções no porto de Leixões.
Foram ainda “contratados” mais nomes: Luís Ferreira – o único elemento do grupo que continua em parte incerta – tinha como função fazer pagamentos, desalfandegamento, negociações com exportadores no Brasil e garantir que a cocaína chegava em segurança aos armazéns da Happy Selection, Lda., em Odivelas, e a outros arrendados. O “reforço” Luís Firmino tinha a responsabilidade de assegurar aos restantes membros da organização os telemóveis encriptados, através dos quais esperavam poder contactar entre si, anonimamente.
De acordo com a investigação, Ricardo Macedo (o braço-direito de Xuxas), José Afonso, José Cabral, Luís Ferreira e Luís Firmino eram os verdadeiros “generais” da complexa estrutura criada por Rúben Oliveira, estatuto que lhes valia comunicar diretamente com brasileiros e colombianos (ver infografia).
Bananas recheadas com coca
Com o Aeroporto Humberto Delgado e os portos de Setúbal e Leixões “controlados”, a cocaína destinada ao “Cartel dos Olivais” começou a chegar a Portugal a bom ritmo, através de malas ou contentores, provenientes do Brasil e da Colômbia – havendo também registos de cargas vinda da Costa Rica e República Dominicana.
Pelo Aeroporto de Lisboa passaram a chegar malas com droga, transportadas nos porões de voos comerciais regulares, que eram prontamente desviadas do circuito de entrega de bagagens aos passageiros, pelos “infiltrados” da organização naquele local, logo que o avião aterrava na capital. A encomenda era depois entregue nas mãos dos “donos” da droga.
A acusação do MP indica, porém, que a investigação acredita que a grande aposta do grupo liderado por Rúben Oliveira continuou a ser a importação de grandes quantidades de cocaína, dissimuladas nas encomendas de fruta lícitas. Além dos carregamentos de açaí ou papaia do Brasil, feitas pela empresa Happy Selection, Lda. (de Gurvinder Singh), os investigadores concluem que, neste período, uma grande quantidade de cocaína chegou a Portugal dissimulada em carregamentos de bananas da marca Orsero, oriundos da Colômbia, que, semanalmente, chegavam ao porto de Setúbal através de uma linha de comércio marítimo que liga Colômbia e Costa Rica a Portugal, composta por embarcações denominadas Cala.
O destinatário da maior parte das toneladas de bananas que chegavam (e chegam) a Portugal era (e é) a empresa Eurofrutas, que, posteriormente, a partir do seu armazém em Alverca, distribui para toda a Península Ibérica. Esta era, aliás, uma das exigências de que Rúben Oliveira não abdicava, como confirma uma mensagem de texto, escrita pelo próprio, num espanhol de recurso, dirigida a colombianos, e intercetada pelos investigadores. “Simba [outra marca de fruta] e Orsero (…) podem-se fazer”, mas o transporte “teria mesmo de ser” feito pela empresa Eurofrutas.
A acusação do MP garante que o grupo recorria ao método rip-on/rip-off, que consiste “na introdução de estupefacientes dentro de contentores pela organização que vendeu o produto e a retirada do mesmo no destino pela organização que o comprou”, sem que os proprietários da carga ou do contentor tenham conhecimento deste facto durante todo o trajeto – é colocado um selo duplicado no interior do contentor, para que não seja detetado que este foi violado. À VISÃO, fonte da investigação confirma que “a empresa Eurofrutas era utilizada, mas não estava envolvida no esquema”. “Servia apenas para justificar o transporte marítimo. A droga era retirada antes de chegar às instalações da empresa. Nas situações em que a droga chegou aos armazéns, em Alverca, isso aconteceu porque os narcotraficantes falharam a retirada da droga, por medo da presença policial ou simplesmente por inaptidão”, diz a mesma fonte.
Segundo os dados recolhidos pelos investigadores, entre março de 2020 e fevereiro de 2022, as autoridades travaram a exportação na América do Sul ou apreenderam, já em Portugal, cerca de 1,8 toneladas de cocaína que pertenciam ao grupo. As principais organizações não governamentais (ONG) que se dedicam ao tema (como a InSight Crime) indicam que apenas entre 10% e 20% da cocaína destinada à Europa é apreendida. As autoridades creem que o “Cartel dos Olivais” comprava cocaína por €5 mil/kg na Colômbia e no Brasil e vendia-a perto dos €50 mil/kg na Europa – o que permite dar uma ideia da riqueza gerada e acumulada pelo grupo no espaço de dois anos.
Ligações ao Rio e a Medellín
O negócio possibilitou a Rúben Oliveira tornar-se o principal narcotraficante português, em apenas um ano. Atuando à distância, o líder mantinha permanentes contactos com Brasil e Colômbia, e também com os outros membros do grupo, controlando a par e passo toda a atividade desenvolvida pela organização.
Embora preferisse reunir-se pessoalmente com os seus colaboradores, quando isso não era possível – o que era frequente –, Rúben Oliveira recorria aos aparelhos fornecidos por Luís Firmino, que adquiria em Espanha todos os cartões de telemóvel utilizados pelo grupo, cujos membros contactam entre si apenas através dos sistemas encriptados EncroChat e Sky ECC, muitas vezes usados por criminosos. Para falar com o Brasil, Rúben Oliveira também utilizava a aplicação Signal. E, numa viagem à Colômbia, chegou a comunicar por WhatsApp.
Rúben Oliveira investiu em imobiliário e tem uma conta bancária recheada no Dubai. Património pode chegar aos
€50 milhões
Apesar destas cautelas, as autoridades conseguiriam intrometer-se nas comunicações, depois de a polícia francesa, no outono de 2020, ter desmantelado a aplicação EncroChat, passando a ter acesso a 130 milhões de mensagens trocadas por mais de 30 mil utilizadores. Segundo adiantou o Expresso, em novembro passado, após a PJ ter descoberto os nomes de código utilizados pelos suspeitos nesta aplicação – Rúben Oliveira era Starkherder, Vanillamutant ou Reliantbus, enquanto o “major” Carvalho era Lucrativeherb –, pediu à congénere francesa que procurasse, no servidor, mensagens potencialmente suspeitas. E, assim, caiu o véu.
Desta forma, a PJ pôde não só confirmar a ligação entre Rúben Oliveira e Sérgio Roberto de Carvalho como, ainda mais decisivo, acompanhar os contactos que a organização mantinha com o Comando Vermelho (CV) – organização criminosa brasileira, sediada no Rio de Janeiro (e principal concorrente do Primeiro Comando da Capital, de São Paulo). Em dezembro de 2020, Xuxas mandatou um colaborador, Pedro Santos, para se deslocar ao Rio de Janeiro e iniciar negociações com o CV para a transação de cerca de 220 quilos de cocaína. As conversas entre as partes foram acompanhadas ao minuto, por telefone, por Rúben Oliveira. E o contexto entusiasmou o representante português, como se confirma numa mensagem escrita intercetada: “(…) não estás bem a ver onde fui e quem é… Estamos a falar de um dos fundadores do CV, o ‘Velho’, mais 2…”
Rúben Oliveira mostrou não ser homem para permanecer muito tempo na sombra, fazendo ele próprio os contactos além-Atlântico. Entre janeiro de 2019 e janeiro de 2021, o líder do grupo deslocou-se, pelo menos, quatro vezes ao Brasil para fechar negócios. E, já depois de a Operação Exotic Fruit da PJ ter começado a provocar as primeiras fissuras no edifício – com a prisão de José Cabral e Gurvinder Singh, em fevereiro de 2022 –, Xuxas abandonou o exílio no Dubai e “mostrou-se” numa viagem à Colômbia.
Convicto de que tinha “tudo sob controlo”, Rúben Oliveira voou até Bogotá para reunir com o Cartel de Medellín (fundado e liderado por Pablo Escobar) e negociar a compra e o transporte, para Portugal, de mais de oito toneladas de cocaína. Fechado o negócio, três embarcações Cala, provenientes do porto de Turbo, na região colombiana de Antioquia, atracaram no porto de Setúbal, numa altura em que Rúben Oliveira ainda se encontrava em trânsito entre Medellín e Madrid.
Discretamente, a PJ desencadeou a Operação Bananero, acompanhando todas as movimentações e comunicações de Rúben Oliveira. Nos dias 3, 9 e 16 de junho, as três embarcações Cala assinaladas chegaram a Portugal. As bananas seguiram para Alverca, mas o estupefaciente, esse, ficou na posse da polícia. Feitas as contas, a PJ apreendeu um total de 8,13 toneladas de cocaína.
Um preocupado e confuso Rúben Oliveira digeria os acontecimentos recentes na capital espanhola, a pouco mais de 600 quilómetros de casa. Decidido a regressar ao Dubai, para tentar perceber o que se estava a passar, o português não resistiu às saudades dos filhos e planeou dar um salto a Lisboa, antes de regressar à segurança do Médio Oriente.
Já em Lisboa, recebeu a notícia da prisão do seu parceiro, “major” Carvalho, na Hungria. A 24 de junho do ano passado, seria a vez de Rúben Oliveira começar a pagar pelos alegados crimes cometidos. Com o bilhete para a fuga no bolso, Xuxas não quis sair do País sem se despedir do bairro que o viu nascer, mas uma dica da PJ trocou-lhe as voltas.
O advogado do diabo
Quando o dinheiro começou a jorrar, Rúben Oliveira terá recorrido aos serviços de António Freitas. Licenciado em Direito, 41 anos, este homem tornar-se-ia o “cérebro” por trás do esquema de branqueamento de capitais de Xuxas. Primeiro, Rúben Oliveira ainda copiara o modelo de Pablo Escobar, criando uma companhia de táxis que permitisse justificar a entrada e circulação de dinheiro na sua esfera pessoal. A empresa chegou a ter dois veículos, mas, tal como aconteceu com o famoso narcotraficante colombiano (que declarou que três táxis lhe providenciavam lucros de cinco milhões de dólares por mês) – falecido em dezembro de 1993 –, passado pouco tempo deixou de ser viável justificar tamanhos proveitos com tão singela atividade.
A solução encontrada pelo “doutor” António Freitas envolveu a constituição da Vascopisus, Lda., empresa que passou a ser gerida por Vasco Soeiro e Filipe Costa, testas de ferro de plena confiança. Através da Vascopisus, Rúben Oliveira pretendia comprar e vender imóveis na região de Lisboa, tendo em vista “lavar” o dinheiro da droga. O esquema era simples: ele comprava um imóvel, declarando, na escritura, um valor inferior ao real e pagando o restante em dinheiro vivo; posteriormente, vendia o mesmo imóvel ao preço do mercado, e a diferença era declarada lucro e permitia justificar o dinheiro que entrava nas contas. Se comprasse imóveis em nome individual, Rúben Oliveira utilizava outra estratégia, nunca pagando a pronto, mas pedindo empréstimos bancários ou fictícios aos familiares Dércio Oliveira e Punil Narotamo. Com este esquema, António Freitas terá ajudado Xuxas a “lavar” cerca de €1,5 milhões.
De acordo com o MP, Rúben Oliveira procurou um paraíso fiscal para guardar o dinheiro do narcotráfico. Sempre com o apoio de António Freitas, obteve autorização de residência nos Emirados Árabes Unidos, o que lhe permitiu efetuar avultados investimentos mobiliários e imobiliários no Dubai e rechear uma conta no banco Emirates NBD, que não presta informação ou colaboração com as autoridades policiais e judiciais europeias.
Em janeiro deste ano, o Expresso garantia que PJ e MP suspeitavam de que “Xuxas tem €6 milhões escondidos em malas algures”; fontes próximas da investigação dizem à VISÃO que “o património de Rúben Oliveira está avaliado em €50 milhões”. A esperança de recuperá-los é pouca ou nenhuma. jsantos@visao.pt
A ascensão e queda de “Xuxas”
Rúben Oliveira foi validado pelo “major” Carvalho por ser “fiável” e “eficiente”. O acordo seria selado numa reunião em Alcobaça. Em apenas um ano, tornou-se o principal narcotraficante português. Vivia uma crise conjugal quando deu um “salto” a Lisboa para rever os filhos. Acabou preso pela PJ
Rúben Oliveira, 39 anos, endureceu a pele e a personalidade quando era ainda muito jovem. Nascido e criado no bairro dos Olivais, em Lisboa, abandonou a escola na juventude, decidido a triunfar nas ruas, que dizia “conhecer como a palma das suas mãos”. A partir de determinada altura, passou a dedicar-se ao crime, apostando no narcotráfico. Com passos pequenos mas firmes, Xuxas (alcunha que se lhe colou) foi consolidando o seu estatuto. E, em meados de 2019, já se tinha transformado numa referência do submundo do tráfico na região da Grande Lisboa, mantendo-se fora do radar da polícia. Descrito como “fiável” e “eficiente”, investiu na abertura de um bar e de uma pastelaria no bairro, procurando encobrir a sua verdadeira atividade. Em data ainda por apurar, seria convidado para um encontro com Sérgio Roberto de Carvalho, ou “major” Carvalho, considerado o maior narcotraficante brasileiro. Os dois homens ter-se-ão reunido pessoalmente, pelo menos, em duas ocasiões. Numa delas, jantaram numa casa particular, em Alcobaça.
Ao sabor do arroz-doce, as partes selaram o acordo, e Rúben Oliveira passou a ser o principal operacional do Escobar brasileiro na Europa, com a tarefa de importar grandes quantidades de cocaína do Brasil e da Colômbia, via Aeroporto de Lisboa e portos marítimos. Em apenas um ano, tornar-se-ia o maior narcotraficante português. Talvez por tudo estar a correr tão bem, Rúben Oliveira baixou a guarda. Com (muito) dinheiro a entrar, descurou a discrição. Nas redes sociais, habituou-se a publicar momentos de uma vida de luxo, da moradia na Póvoa de Santa Iria ao convívio com automóveis de alta cilindrada, hotéis e restaurantes caros e viagens para destinos exóticos. Agradecido por tudo o que tinha, decidiu prestar homenagem a duas das mais famosas personalidades da história do narcotráfico, tatuando nas pernas os rostos de Pablo Escobar e Joaquín Guzmán (El Chapo)… Em fevereiro de 2022, vivia uma crise conjugal (e já se falava em divórcio), quando a PJ apreendeu 354 quilos de cocaína e deteve cinco homens da organização. Rúben Oliveira ainda se exilou no Dubai, aguardando que “as coisas acalmassem”. Sem que o suspeito se apercebesse, as autoridades portuguesas tinham lançado a rede e esperavam apenas uma oportunidade para o “pescar”. Depois de uma viagem de negócios à Colômbia, com escala em Madrid, Rúben Oliveira não resistiu às saudades e resolveu dar um salto a Lisboa, para rever os seus dois filhos. Ainda foi localizado perto de Porto de Mós, mas seria no bairro dos Olivais, onde nasceu e cresceu, que a PJ o apanhou, no dia 24 de junho de 2022.