Para o bem e para o mal, o ideal é partilhar uma vida a dois com um bom relacionamento e uma sintonia não planeada, mas isso também pode ser sinal de alguns quilos a mais na balança.
No início, quando duas pessoas se juntam é natural uma certa cumplicidade e serenidade – uma vontade de partilhar momentos, como sair ao fim de semana, jantar mais vezes em casa, abusando das iguarias e preferindo comidas que em solteiro nenhum deles se lembrava. Ao mesmo tempo que a ideia de fazer uma dieta passa a ser constantemente adiada, ter a ingenuidade de pensar que “comigo não acontece” terá os seus gramas extra.
No entanto, são precisos vários dados, muito específicos, sobre os dois membros de um casal, para se comprovar com maior certeza, de que as pessoas engordam, em média quatro quilos, quando estão felizes na vida amorosa.
Os estudos que têm sido feitos podem pecar por defeito. Geralmente, os dados são insuficientes sobre os hábitos alimentares do casal, porque nos ensaios apenas um dos membros costuma participar, dando estimativas imprecisas de quanto o outro come ou pesa. Também não é fácil para os investigadores reunirem dados sobre os hábitos que cada um tinha antes de iniciar a relação. E, normalmente, a vida a dois pode significar mais mudanças, como de morada, um novo emprego, novos amigos ou uma vida mais sedentária.
O primeiro estudo que associou a vida de casal ao ganho de peso foi publicado na revista Obesity, em 2012. Segundo esses resultados, quanto mais tempo uma mulher permanece num relacionamento estável, mais engorda. Nos homens, esse risco dispara nos dois primeiros anos de convivência e depois estabiliza. Alguns anos depois de começarem a viver juntos, as mulheres viam duplicar o risco de obesidade em comparação com aquelas que ainda eram solteiras ou apenas namoravam.
O estudo mostrou, segundo a endocrinologista Ana de Hollanda, coordenadora da área de obesidade da Sociedade Espanhola de Endocrinologia e Nutrição, que casais que começaram um relacionamento tinham tendência a ganhar peso, especialmente se a coabitação durou mais de um ano. “É provável que uma situação mais estável facilite o ganho de peso, pois não estão à procura de parceiro. Provavelmente, o aumento da responsabilidade nos compromissos conjugais em conjunto com o aumento da carga de trabalho, sedentarismo e stress também podem explicar essas mudanças no peso.”
Para os autores do estudo, como escreve o jornal El País, não há apenas um culpado. Em vez disso, apontam para uma série de mudanças na vida das pessoas: horários diferentes e logística mais complicada que impede a prática de exercício físico, fazer mais refeições em restaurantes com amigos e passar muito mais tempo no sofá a ver televisão.
A tentação de pedir mais refeições em take-away ou entregas em casa fará com que o casal encomende comida mais calórica, como pizza ou hambúrguer, por exemplo.
Este tipo de junk food é mais saboroso e quando num casal um quer cuidar-se e o outro não, poderão vencer os maus hábitos. Ao irem morar juntas, as pessoas podem perder alguma preocupação com o aspeto físico, por já terem feito a sua conquista.
Quem nunca começou a noite com um copo de vinho e alguns aperitivos? Daí para a frente virão os gelados ou os biscoitos no final do serão.
Em 2016, um outro estudo feito com 169 casais recém-casados mostrou que quanto mais feliz um casal era, mais gordos ficavam. Quem estava aborrecido ou prestes a sair de um relacionamento começava a lutar contra o excesso de peso, antes mesmo da derradeira conversa com o parceiro.
A análise confirmou que os casais que viviam juntos há mais de quatro anos duplicavam o risco de excesso de peso em comparação com aqueles que não se sentiam muito à vontade com a relação.
Ao longo desses quatro anos, os “de bem” com a vida amorosa ganharam em média quatro quilos. “É um indicador de que as pessoas estão confortáveis e priorizam o bem-estar sobre questões estéticas e físicas. Os menos felizes já estão motivados a sair de cena e querem atrair um novo parceiro em potencial, então investem novamente no ginásio e cuidam mais da alimentação”, explica Sarah Novak, professora de psicologia da Hofstra University, em Long Island, nos EUA, e coautora do estudo.
Mas de que forma um dos membros do casal pode boicotar o outro? Quando aquele que vai ao supermercado compra tudo o que o outro não quer comer ou insiste que sejam feitos dois pratos diferentes porque não gosta de verduras. “A minha experiência mostra que, em geral, os homens boicotam mais do que as mulheres, que no fundo são mais empáticas, facilitadoras e mais acostumadas a cuidar da alimentação. É mais difícil para eles adaptarem-se”, explica Azahara Nieto, nutricionista especialista em transtornos do comportamento alimentar e obesidade, ao El País.
Em consultório repete-se um padrão: homens que comem mal e são ativos e mulheres que comem melhor, mas são sedentárias. “Eles estão acostumados a ficar de boca fechada, a estar sempre de dieta. Os homens acreditam que podem comer porque depois vão para o ginásio.
Para a endocrinologista e nutricionista Ana de Hollanda, quando uma família faz dieta e emagrece, contagia os que a rodeiam e não estão a tentar emagrecer. “Se temos amigos que praticam desporto ou são obesos, é mais provável que também pratiquemos desporto ou sejamos obesos. Por isso, as intervenções num grupo familiar podem ter um alcance maior do que as ações individuais”, sublinha. Mas, é preciso manter as mudanças do estilo de vida mais de seis meses ou um ano, pelo menos. Serão os casais capazes de abdicarem da felicidade para perderem alguns quilos?