Se a Fashion Week é um acontecimento global da indústria da moda, que acontece durante vários dias, em diferentes países, durante o mês de abril, o mesmo se passa com a Fashion Revolution Week. E Portugal não é exceção, nem num caso, nem no outro. Depois de acabar a semana em que os criadores mostram as suas coleções (15 a 18 de abril), começa então a sua versão revolucionária. E acaba dia 25 de abril.
O movimento Fashion Revolution nasceu em Inglaterra, com Carry Somers e Orsola de Castro, em 2013, no seguimento do desabamento do edifício Rana Plaza, nos subúrbios da capital do Blangladesh, que albergava oito pisos de fábricas da indústria têxtil internacional, como a Benetton ou a H&M, deixando à vista de todos as condições precárias em que as pessoas cumpriam as suas tarefas. Morreram 1127 trabalhadores nesse dia e as antigas empresárias do universo fast fashion consideraram que não podiam ficar mais de braços cruzados, em conluio com as grandes marcas globais.
A Portugal, e um pouco por todo o mundo, o movimento que se opunha à forma de confecionar da fast fashion, chegou um ano depois, pela mão de Salomé Areias, a seguir a ter tido acesso a esta ideologia através das redes sociais. Tornou-se numa associação sem fins lucrativos em 2018. Até hoje é ela, bolseira na área de ambiente e sustentabilidade, que coordena o núcleo português, a crescer exponencialmente, apenas com base em voluntariado.
“Fomentamos a transparência das cadeias de abasteciemnto da indústria têxtil, de modo a permitir o consumo consciente e informado, como meio de chegar à sustentabilidade”, resume Salomé. “Emponderamos o consumidor enquanto autoridade crítica, tanto a nível individual como coletivo, demonstando que este terá muito mais poder se estiver unido à sua comunidade.”
Ao princípio organizavam conferências e workshops direcionados apenas ao consumidor, para ensinarem como se pode tratar a roupa, organizar feiras de trocas, fazer upcycling das peças e sensibilizar para o papel na mudança. Com o passar dos anos, o azimute virou-se também para a indústria, por enquanto apenas para as marcas mais pequenas com sede de mudança. É aqui que entra a ideia de transparência. “Queremos chegar às grandes marcas, quebrar tabus no fast fashion”, assume a ativista.
Apesar de este movimento ter conseguido, a nível mundial, pois já existe em cerca de 100 países, que haja mais transparência, ainda se mantém uma enorme opacidade em relação às questões laborais. E as mudanças não se refletem no consumo: nos últimos 15 anos, as compras de roupa duplicaram e continua a produzir-se 100 biliões de peças por ano.
“As marcas são responsáveis até certo ponto, até porque têm a lei a protegê-las. E o greenwashing também ajuda a vender, embora agora já se vejam consumidores a descredibilizarem-no”, nota Salomé Areias.
Para esta 5ª edição da Fashion Revolution Week, toda online, por culpa da pandemia, o movimento nacional preparou um programa intenso: todos os dias da semana, às 10h30, no Instagram do movimento há open factory, que são visitas a fábricas, para se conhecer o modo como trabalham. À tarde, às 18h30, há cinco webinar, muito práticos, dirigidos a profissionais e a consumidores, como por exemplo, ensinar gerir o desperdício têxtil. E não se vai tratar de reciclagem, porque nesta área, ela ainda levanta muitas dúvidas. “Antes de chegar a esse R, há a redução, para se usar menos recursos, e a reutilização. E ainda o repensar, centrado na necessidade da compra e em entender os nossos desejos, num trabalho de introspeção.” No fim-de-semana de 24 e 25 haverá círculos de partilha, em Zoom, um método sem julgamentos de experiência refletida. De resto, a comunidade organiza outros eventos mais locais, como feiras de trocas, que já fogem ao crivo da organziação. Tudo em nome de uma moda mais sustentável.